“Irá impactar o nosso quotidiano”. Maiatos manifestam-se contra projeto do tanatório
Porto Canal
Um grupo de moradores da zona do Xisto, em Vermoim, na cidade da Maia, está a contestar a construção de um tanatório naquela área, alegando que a Câmara está a violar o Plano Diretor Municipal (PDM), além de ignorar as preocupações da população. A obra, adjudicada em julho à empresa Servilusa, está prevista para uma área junto ao cemitério municipal, o que gerou grande controvérsia entre os residentes, que denunciam não ter sido consultados nem informados adequadamente sobre o projeto.
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“Temos aqui muitas famílias jovens com crianças que brincam nesta rua. Com o investimento que está a ser feito, nós prevemos que diariamente vai haver aqui um conjunto de automóveis para incinerar corpos que nem são da Maia - que é outra coisa caricata”, afirma Ana Teixeira. Para a moradora, que se concentrava junto aos terrenos esta segunda-feira com mais de uma dezena de pessoas, a nova construção “vai implicar que as pessoas não possam circular livremente como faziam até aqui”.
“Isto é uma zona sossegada, com muitas habitações, e agora vem para aqui um cemitério e um crematório aqui ao lado … é muito mau”, acredita José Monteiro, que mora junto ao futuro tanatório há uma década.
Já Fernando Sousa, porta-voz do grupo de moradores, garante que nenhum vizinho tinha sido avisado do projeto - o que o motivou a deixar papéis explicativos na caixa de correio de todos. “Entretanto apercebi-me de que havia uma discussão pública do PDM em curso (...) e incentivei as pessoas a participar civicamente de democraticamente no processo”.
Segundo os moradores, o tanatório ficará demasiado próximo de mais de 100 habitações e afetará diretamente mais de 300 pessoas, com algumas casas a apenas 10 metros do local previsto para o equipamento. O grupo teme que a incineração de cadáveres liberte gases e partículas nocivas à saúde, colocando em risco a qualidade de vida na zona.
"A vida em Xisto nunca mais será a mesma"
Os cidadãos alegam que a vida na zona do Xisto "nunca mais será a mesma", com a realização diária de até seis funerais, como afirmou o responsável da Servilusa. "Estamos a falar de um equipamento que irá impactar diretamente o nosso quotidiano e a nossa saúde. Não nos opomos ao conceito de tanatórios, mas sim à sua localização, numa zona residencial tão densamente povoada", explicam num comunicado enviado esta segunda-feira.
Além disso, os residentes acusam a Câmara da Maia de ter assinado um contrato de concessão com a Servilusa sem consultar a população ou disponibilizar qualquer tipo de informação pública. "A Câmara violou o PDM, colocando o tanatório numa área de Proteção Florestal e Habitação Coletiva", afirmam.
Ao Porto Canal, a autarquia maiata garantiu que não houve qualquer violação do PDM ou da lei, uma vez que o centro funerário “vai ser construído em solo integralmente classificado como solo Urbano”, que compactua com aquele equipamento.
A indignação dos moradores aumenta pela falta de resposta às várias reclamações enviadas pelos moradores durante a revisão do PDM, que terminou em setembro, e pela negativa em fornecer documentos públicos relacionados com o projeto, como o contrato, o estudo de impacto ambiental e o projeto arquitetónico.
A falta de transparência por parte da autarquia é outro ponto crítico. "Estamos a lutar pela saúde pública, pela cidadania e pela transparência. A Câmara tem o dever legal de nos fornecer os documentos relacionados com o projeto, mas até agora ignorou os nossos pedidos", reforçam.
“No que toca à Saúde Pública, o projeto colheu os pareceres prévios das entidades públicas pertinentes, nomeadamente da ARS, e, desnecessário será dizê-lo que não avançaria se houvesse algo a obstar nesse domínio”, acrescentou o município na resposta.
Escolha da localização
No local, várias pessoas relataram a falta de espaços verdes naquela zona e admitiram não compreender a escolha da localização do tanatório. A autarquia, por sua vez, explicou que esta foi a opção “que melhor se adequa aos interesses do município e dos munícipes”.
“Do ponto de vista urbanístico, este destino é aquele que melhor se adequa ao enquadramento urbanístico do espaço em causa, reforçado pela proximidade ao novo cemitério municipal de Vermoim, pela existência de terrenos de domínio municipal, por estar adjacente a parque de estacionamento público, com dimensão suficiente e características adequadas à utilização pretendida”, esclareceu o município.
“É um local que permite um rápido acesso de e para todas as freguesias do concelho. Nenhum outro local reunia, dentro daqueles parâmetros enunciados, melhores condições para aquela finalidade”, concluiu a Câmara da Maia.
Projeto de Souto Moura
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O projeto do tanatório, com um investimento de 13,5 milhões de euros, é da autoria do arquiteto Eduardo Souto Moura e será integralmente financiado pela concessionária, sem custos para o município. A obra está prevista para durar um ano, embora a empresa concessionária tenha manifestado a intenção de antecipar esse prazo.
O presidente da Câmara da Maia, António Silva Tiago, defendeu na altura da assinatura do contrato que o projeto é uma mais-valia para a cidade, destacando a qualidade arquitetónica e o impacto paisagístico da obra, que será realizada sem qualquer custo para o município.
Contudo, os moradores da zona do Xisto continuam a contestar a localização do tanatório e exigem uma revisão do projeto, apelando à população para apoiar a sua causa.