Escadas do Monte Cativo no Porto viraram “lixeira a céu aberto”. Queixas dos moradores levaram Câmara a intervir
Catarina Cunha
Durante duas semanas as Escadas do Monte Cativo na zona da Lapa, no Centro Histórico do Porto, transformaram-se numa “lixeira a céu aberto”, fruto da ocupação de um grupo que chegou a ser composto por 20 pessoas. Em cada degrau eram visíveis restos de comida, itens de higiene pessoal e também excrementos humanos. Este era o cenário do local até à passada quinta-feira, quando a denúncia foi feita ao Porto Canal e altura em que a Câmara do Porto promoveu uma ação de limpeza no espaço.
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As Escadas do Monte Cativo junto às obras do futuro Parque Urbano da Lapa e cuja inauguração está prevista para o presente mês, tornaram-se num ponto de encontro usado sistematicamente por um grande grupo de indivíduos. Recorde-se que, na cidade do Porto há outro sítio a ser utilizado como abrigo por um conjunto de 20 a 50 pessoas, tal como o Porto Canal noticiou.
“Começaram por ser três e agora são cerca de 20”, relatou ao Porto Canal uma moradora do prédio habitacional contíguo. “Eles cozinham, lavam e estendem a roupa nos muros, banham-se na fonte, guardam alguns bens no terreno (do lado), mas nunca dormem”, disse a mulher que preferiu não ser identificada.
Perante este comportamento, as Escadas do Monte Cativo e respetivas imediações transformaram-se numa “lixeira a céu aberto”, repletas de bens de higiene pessoal, acessórios de cozinha, restos de comida e até fezes humanas. Parte do rasto de lixo ainda pode ser encontrado no terreno do lado, que está abandonado há cerca de 30 anos.
“Nas escadas e no terreno há ratos, mosquitos e centopeias com fartura”, referiu uma habitante. Além disso, a presença de gaivotas tornou-se comum. “Nunca tivemos gaivotas a rondar, mas agora há imensas a comerem os restos de comida”, salientou.
Os restos de comidas e as fezes humanas levaram ao aparecimento de insetos e roedores
As fotografias tiradas pelo Porto Canal durante uma visita ao local no início da passada semana ainda mostravam os vestígios de ocupação. No decorrer das escadas havia garrafas de cerveja partidas, condimentos, pasta dos dentes, panelas, carvão e até carne crua.
Os episódios começaram há cerca de duas semanas e repetiam-se todos os dias, entre as 17h30 e as 22h00 horas. O grupo tratava aquele espaço “como se fosse a sua casa”, ocupando a totalidade das escadas, o que impedia a passagem de outros cidadãos e obrigava a alterar a rotina diária de muitos moradores. “Nós já não usamos as escadas. Por exemplo, as pessoas de mais idade já não passeiam com os cães à noite”, contou outra residente.
Os habitantes justificam as queixas apresentadas enquanto problema de saúde pública e não pela ocupação em si. “Não temos medo que nos façam mal, pois não são uma figura hostil, nem vemos momentos de tensão entre eles, apenas não faz sentido vivermos no meio destas condições de higiene”, sublinhou uma das queixosas.
Os inconvenientes foram devidamente reportados à Polícia Municipal (PM), Polícia de Segurança Pública (PSP) e à Câmara do Porto a quem desesperadamente pediram o reforço da vigilância e o corte no abastecimento de água na fonte existente numa das entradas das Escadas do Monte Cativo, onde o grupo de pessoas era visto a cozinhar e a tomar banho.
Na passada sexta-feira, poucos dias depois da visita de uma equipa do Porto Canal, a acumulação de lixo nas Escadas do Monte Cativo foi retirada no decurso de uma ação de limpeza levada a cabo pela Câmara do Porto, através da empresa municipal Porto Ambiente. Quanto ao entulho acumulado no terreno contíguo, uma fonte confirmou ao Porto Canal que a autarquia portuense irá contactar os proprietários do mesmo para procederem à limpeza da área.
As Escadas do Monte Cativo foram limpas por equipas municipais
Relativamente à vigilância do espaço, o município liderado por Rui Moreira, em resposta ao Porto Canal, destacou que “a Polícia Municipal, em conjunto com os serviços de Proteção Civil, tem trabalhado para repor a normalidade na zona”.
Após insistência dos residentes, a Águas do Porto deslocou-se ao espaço para cortar o abastecimento de água na fonte, que perdurará por um período de 30 dias. Os moradores acreditam que com esta medida o grupo não voltará a ocupar as Escadas do Monte Cativo e respetiva área envolvente.
Numa nova visita ao espaço, depois da passagem das equipas de limpeza municipais, o cenário encontrado não é o mesmo. Naquela zona, para já, a normalidade parece ter sido reposta, não fosse o cheiro nauseabundo por ali ainda persiste.