“Não trocava Riba de Mouro por qualquer cidade”

“Não trocava Riba de Mouro por qualquer cidade”
| Norte
Catarina Cunha

Encontra-se a 20 quilómetros de Monção a aldeia de Riba de Mouro. Com a Serra da Peneda aos pés, os campos semeados de milho e centeio resistem à passagem do tempo e com eles os seus orgulhosos 802 habitantes. Em “Lá de Riba” outro dos grandes resolutos é o dialeto “ribamourês”, surgido em grande parte pela proximidade à Galiza.

 
 
 
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Uma viagem de duas horas e trinta minutos, a partir do Porto, é a proeza necessária para chegar a este pequeno santuário na região do Alto Minho: Riba de Mouro. Ladeada pelos concelhos de Arcos de Valdevez e Melgaço, a povoação é desertificada, feita de ruas estreitas, de curva e contracurva e com um amplo pasto verdejante por onde o gado passeia.

Sente-se o cheiro a estrume e ouvem-se as conversas de café entre as gentes de Lá de Riba, que não negam um “bom dia” à passagem daqueles que são estranhos à terra. Por estes dias, voltou a azáfama de outros tempos, fruto da festa da aldeia que é motivo para o regresso dos emigrantes.

É o caso de Armando Domingues, de 64 anos, emigrado há duas décadas em Sydney, na Austrália. Regressa a casa no verão para fugir ao inverno rigoroso e por cá mantém-se até à chegada das castanhas. “A terra dá-me tudo. Dá-me alegria, ar puro e estabilidade emocional. Aqui não falta nada”, comenta, sentado no banco da Junta de Freguesia de Riba de Mouro.

Os bens essenciais são lavrados no campo ou adquiridos na feira quinzenal. Já o pão, a carne e o peixe tocam à porta de casa todas as semanas. A agricultura e a pecuária são das poucas profissões da povoação. Contudo, esta escassa oferta não é tida como justificação para os moradores mudarem o seu código postal.

Tenho um apartamento em Monção, mas não gosto de ir para lá. A gente nasceu no monte e é do monte”, conta Armando, conhecido por ‘Mando em Riba de Mouro’. Quem partilha da mesma opinião é a sua amiga Maria da Conceição. A idosa de 70 anos reside nesta aldeia desde que se conhece. Nunca saiu do seu ‘cantinho’.

Nunca se proporcionou sair. Aqui é uma maravilha. Gosto muito do silêncio e de ouvir os passarinhos a cantar”, realça sorridente. A reformada, que fez da agricultura a sua profissão, admite não sentir falta do “movimento” e diz que a “terra” lhe dá saúde.

Não trocava Riba de Mouro por uma cidade, por nada. Quando a minha filha estava em Braga a estudar, íamos lá visitá-la ao fim de semana. Saímos ao sábado à tarde e no domingo ao meio-dia já estava cheia de lá estar, queria vir embora”, relata.

Ribamourês, o dialeto que se confunde com o galego

Fruto do isolamento social surge o “ribamourês”, um dialeto típico de Riba de Mouro que foi desenvolvido por influência da proximidade com a Galiza e que, a alguns, os confunde com os galegos.

Pela aldeia, “já não se ouve muita gente a falar à moda de Riba de Mouros porque os mais velhos vão desaparecendo e os mais novos vão para a escola” onde aprendem a falar corretamente, referem os dois amigos, enquanto explicam as diferenças da linguagem.

Por exemplo, nós dizemos muitas cousas, vocês dizem muitas coisas. Também dizemos ‘Barjas’ ou ‘Favecas’, ao invés de feijão verde”, desvendam.

Para valorizar o linguajar da montanha, duas habitantes de Riba de Mouro - Alda Barreiros e Maria Alves - lançaram no presente ano “Os de Lá de Riba”, um livro com edição da Câmara Municipal de Monção que explica a história, as tradições e o vocabulário do dialeto do povo.

Qual será o futuro da aldeia de Riba de Mouro?

Apesar de não se sentirem isolados, Armando e Maria confessam a falta que a alegria de ter crianças faz à aldeia de Riba de Mouro. “Existem poucos jovens, isso é o pior”, revela a idosa.

Tendo em conta os dados fornecidos pelos últimos censos, parecem não existir ali motivos para sorrir. A terra definha e perde os seus como muitas outras daquele interior profundo, tendo nos últimos dez anos visto a sua população decrescer em 16,8%, cada vez mais longe das quase 2.200 pessoas que por ali viviam na década de 60.

Apesar da crueldade dos números, Maria não deixa de manter a esperança que o seu lar escape à desertificação e encontre no turismo a solução para evitar a morte daquele pequeno “paraíso” amado por portugueses e galegos.

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