“São João devia procurar uma candidatura a Património da Humanidade”

“São João devia procurar uma candidatura a Património da Humanidade”
| Porto
Fábio Lopes

É uma tradição intemporal, que envolve o Porto num clima de profundo entusiasmo, liberdade e celebração coletiva. O São João representa uma união entre o sacro e o pagão, sendo um dos eventos âncora da cidade. A festa mais querida dos “tripeiros”, que arrasta multidões para a rua, contagiando cada um dos bairros e freguesias da Invicta, devia, pela sua relevância “histórica, social e cultural” ser candidata a “Património da Humanidade”, vinca ao Porto Canal o historiador Hélder Pacheco.

 
 
 
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É a maior celebração a um santo popular, o São João. Apesar de ser celebrada um pouco por todo o Velho Continente, é no Norte do país que conhece a sua maior expressão. Durantes vários dias, com epicentro dos festejos na noite de 23 para 24 de junho, o "santo" transforma a cidade, perfumando-a com o cheiro a alho porro, a sardinhas, e com as sonoridades das marteladas na cabeça dos milhares de foliões que inundam o Porto, desde a Estação de São Bento, Avenida dos Aliados, Ribeira, Boavista, passando pelas Fontainhas.

Dada a sua simbologia e todo o seu “apport” histórico e cultural, o São João deveria na ótica de Hélder Pacheco “procurar uma candidatura a Património da Humanidade, porque há festas muito menos relevantes noutros sítios que já o são”, defende o emblemático historiador portuense, apelidando a festividade de “ato de cultura coletivo”.

As raízes do São João

Com origem no século XIV, o São João era inicialmente uma festa pagã, de adoração ao Deus do Sol, em comemoração das colheitas e da abundância. Posteriormente, a Igreja cristianizou esta festa pagã, celebrando o nascimento de São João Batista no dia 24 de junho.

“Há uma referência do Fernão Lopes, por exemplo, que remete para o século XV, em que diz que no dia de São João havia uma grande festa na cidade. Mas depois há um vazio e a partir do século XIX voltam a aparecer, até porque aparece em força a imprensa também”, começa por dizer o também professor e escritor ao Porto Canal.

“A informação segura sobre o São João, sobre a festa do São João é do século XIX. Do século XIX, o Garrett já fala dos três São Joões, no Porto, portanto a partir do século XIX, há informações seguras e do século XX há a própria vivência e a memória das pessoas”, frisa Hélder Pacheco.

Assim, é essencialmente a partir do séc. XX, altura em que o dia de S. João se torna feriado municipal, após um referendo promovido pela edilidade, que a festa adquire um cariz sobejamente popular.

“Era uma noite de felicidade. Para muita gente era provavelmente a única noite de felicidade em convivência com as multidões”, aponta o historiador.

Hélder Pacheco divide o protagonismo do São João com outra festividade portuense, as festas de São Bartolomeu, que acontecem na União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.

“A festa de São Bartolomeu, na Foz, devia ser também classificada, porque a festa de São Bartolomeu é muito interessante”, remata Hélder Pacheco.

O ponto alto desta festividade é o tradicional e centenário Cortejo do Traje de Papel, que leva anualmente centenas de participantes à Foz do Douro. O final do desfile é marcado pelo já habitual banho santo no mar “para expurgar todas as maleitas”.

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