Núcleo da Universidade do Porto estreia teatro itinerante com moradores de aldeias de Arouca
Porto Canal / Agências
Arouca recebe no domingo a estreia de um projeto de teatro itinerante que, recorrendo a 60 moradores de várias aldeias do município, retrata memórias da exploração mineira, da produção do leite, da lida florestal e de outras realidades locais.
Essa será a primeira exibição do espetáculo criado pelo Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto (NEFUP) para a Câmara de Arouca, no distrito de Aveiro, no âmbito do projeto “Dar + Vida à Aldeia”, que, nos últimos meses, trabalhou com comunidades das freguesias de Alvarenga, Cabreiros, Albergaria da Serra, Canelas, Espiunca, Covêlo de Paivó, Janarde e Moldes, e depois terá continuidade noutros povoados do concelho.
A peça a apresentar intitula-se “Pela Freita, Arada e Montemuro - Vidas que brotam das montanhas” e é encenada por Luís Monteiro, que tendo trabalhado com Armando Dourado e Helena Queirós na recolha que serviu de base à dramaturgia, adiantou à agência Lusa.
Pelo palco vai passar “um manancial de histórias, lendas, cantigas, tradições e jogos” – todos resultantes da partilha de habitantes das aldeias serranas em causa, sobretudo os mais idosos.
Essas memórias comunitárias e pessoais foram depois convertidas em pequenos textos dramáticos que se interligam “com a perspetiva crítica que os habitantes estabelecem entre o passado e o presente, entre o tempo do minério, do leite, da floresta e da agricultura de (pouca) subsistência, e a era das migrações, da desertificação e do envelhecimento, mas também da valorização do mundo rural, das condições de vida, da educação e do turismo”.
Percorrendo a partir da capela de Regoufe vários recantos da aldeia, o espetáculo envolve ainda uma forte componente musical, contando com diversos grupos e cantadeiras das povoações envolvidas no projeto, e culminando num baile comunitário com músicos não só das freguesias, mas também do próprio NEFUP – o que aos 60 atores acrescentará mais 40 participantes.
Luís Monteiro defende que todo o trabalho desenvolvido para conceção desta peça de teatro constitui um esforço de “valorização e salvaguarda ativa do património cultural imaterial da região, nomeadamente através da sua transmissão oral”, e tem a vantagem acrescida de fomentar a interação e o convívio entre diferentes comunidades e distintas gerações, o que atenua o isolamento social e cultural.
Com entrada livre, a primeira encenação de “Pela Freita, Arada e Montemuro - Vidas que brotam das montanhas” terá lugar em Regoufe e depois estará em cena a 15 de junho em Canelas de Baixo, a 22 em Fuste, a 30 em Albergaria da Serra e a 27 de julho na Noninha.
No segundo semestre de 2024, serão trabalhadas outras cinco freguesias de Arouca e o respetivo espetáculo, seguindo-se, já em 2025, as últimas seis localidades e a sua peça final. As exibições públicas, por sua vez, serão sempre “em palcos improváveis”.
No total, o projeto representa um investimento municipal superior a 43.000 euros, comparticipado ao abrigo do plano de ação integrada para as comunidades desfavorecidas da zona sul da Área Metropolitana do Porto, através do Plano de Recuperação e Resiliência.
A presidente da Câmara Municipal de Arouca, Margarida Belém, afirmou que desta forma colaborativa se consegue “promover programação itinerante numa lógica de cultura para todos, democratizar a arte do teatro e envolver os arouquenses na preparação de objetos artísticos”.