“Estudar no Porto é um privilégio”, mas ainda há muito por resolver

“Estudar no Porto é um privilégio”, mas ainda há muito por resolver
| Porto
Ana Francisca Gomes

Falta de oferta de alojamento estudantil, deterioração da saúde mental e vontade de emigrar. Em vésperas do Dia Nacional do Estudante, que se celebra a 24 de março, Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), alerta para as ‘pedras’ que surgem no caminho dos estudantes.

A divulgação dos resultados das colocações no Ensino Superior representa para milhares de estudantes o primeiro grande desafio no seu percurso académico: a procura de um quarto. Se é verdade que nos últimos anos a “crise da habitação” foi um dos temas que mais marcou o debate público, quem muda de cidade para se formar não conseguiu escapar a este problema. Só na Área Metropolitana do Porto, segundo dados de 2016, os alunos deslocados representavam 35% da comunidade estudantil.

Segundo dados disponibilizados pela FAP, na cidade do Porto existem 1700 camas em residências públicas. Mas só o número de estudantes que frequentou a Universidade do Porto durante o ano letivo de 2022/2023 ultrapassou os 30 mil. Somam-se mais 18 mil estudantes quando estas contas são alargadas ao Politécnico e, já perto da barreira dos 50 mil estudantes, ficam ainda por contabilizar as instituições privadas.

 
 
 
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“O preço dos quartos é impeditivo para muitas famílias”

E se a oferta estatal é insuficiente, as respostas dadas pelo setor privado acabam por não ser solução para a maioria dos agregados familiares. Os dados mais antigos disponibilizados pelo Observatório do Alojamento Estudantil, que analisa a oferta privada de alojamento para estudantes, são de setembro de 2021, e os mais recentes de dezembro de 2023. No período de dois anos e três meses, o número de quartos disponíveis diminuiu de 9884 para 3054. Aliada à diminuição da oferta constata-se o aumento no preço médio de um quarto em Portugal, que no intervalo considerado passou de 268€ para 353€. No caso do Porto, atualmente, o preço fixa-se nos 410€.

“Ser estudante no Porto é um privilégio e uma experiência única. É a melhor experiência da vida de qualquer um. Mas, obviamente, há sempre problemas”, não esconde Francisco Porto Fernandes, recentemente eleito presidente da FAP.

Em entrevista ao Porto Canal, o estudante de economia alerta para a “discrepância” entre o valor mensal de uma propina e o valor a pagar por um quarto. “Hoje em dia no Porto a propina custa menos de 70€ por mês, mas um quarto custa 400 €. Mesmo falando de um estudante de mestrado - que paga 150 € por mês de propina - o quarto continua a custar mais do dobro. É mesmo impeditivo para muitas famílias que os filhos frequentem o ensino superior”

O Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES) não fica de fora das críticas do representante dos estudantes. Em 2018 foram prometidas 18 mil novas camas, mas dessas apenas 474 foram criadas, o que representa 3% do valor inicialmente estipulado.

Contactada em fevereiro pela Lusa, fonte oficial do Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) fez um ponto de situação do PNAES, dando nota que "quase 60% das camas" já se encontram ou "concluídas", ou "em construção", ou em "em adjudicação de empreitada ou licenciamento" e que "ultrapassaram todas as fases administrativas exigidas no processo de construção", cumprindo as exigências legais de transparência de dinheiros públicos.

Os valores preocupam Francisco Porto Fernandes, que os compara com o número de camas que a Federação Académica do Porto disponibilizou no início desde ano letivo, com a inauguração de uma residência universitária gerida por estudantes na Rua da Bainharia, junto à Sé. “A FAP, que é uma estrutura estudantil de voluntários, construiu com os lucros da Queima das Fitas uma residência com 40 camas. Ou seja, voluntários estudantes constroem 10% do que constrói todo o Estado Central”.

O presidente da FAP alertou para a falta de respostas para as famílias da classe média baixa.

Maioria do estudantes já pensa em emigrar

Da mesma forma que o líder do PSD anunciou um “plano de emergência” para a saúde, os estudantes querem-no para a habitação. “Vamos lançar um repto a Luís Montenegro - se for indigitado primeiro-ministro - para adotar um plano de emergência para alojamento, seja ele estudantil, seja ele também para os jovens no dia seguinte ao ensino superior”.

O tema da habitação surge também como um entrave à emancipação dos jovens, mesmo após a conclusão dos estudos. Num estudo feito pela estrutura académica que representa os estudantes da Invicta, apenas 22% dos inquiridos tem expectativa de arrendar ou adquirir habitação antes dos 25 anos e 24% acredita que a independência financeira só será possível depois dos 30.

Nesse mesmo inquérito, cujas conclusões foram tornadas públicas a poucos dias das Eleições Legislativas de 10 de março, metade dos inquiridos revela que pondera emigrar após a conclusão do Ensino Superior, com 33% a preferir não responder ainda.

“Somos a geração mais qualificada de sempre, mas somos também a primeira a viver pior do que a dos seus pais”, alerta o mais jovem presidente da FAP.

O ‘tabu’ da saúde mental que se mantém em declínio

A juntar a um bolo onde a falta de habitação e a preocupação com o futuro são os principais ingredientes, também o deteriorar do bem estar psicológico dos estudantes da academia do Porto tem marcado as conclusões dos últimos estudos.

“Isso preocupa-nos. E preocupa-nos que da parte da tutela haja a preocupação de um discurso, mas não haja ação. E quando eu digo nação, não falo só do dinheiro. Claro que é preciso dinheiro para mais psicólogos, para estratégias a montante, mas acima de tudo nas atitudes que não custam dinheiro”, atira. “Como é que é possível um reitor, um presidente, uma instituição, falar de saúde mental e, contudo, continuarmos com três, quatro exames numa semana?”.

No Porto, Dia Nacional do Estudante é celebrado esta quarta-feira

Desde 1987 que o Dia Nacional do Estudante é comemorado em Portugal a 24 de março, data que este ano “calha” a um domingo. A Federação Académica do Porto vai assim celebrá-lo mais cedo, já esta quarta-feira, com a iniciativa “Geração 30”, alusiva à queda em 30% do poder de compra dos licenciados.

Está marcado um encontro para as 12h00 na estação de metro da Trindade, onde os alunos marcharão até à Avenida dos Aliados com malas de viagem alusivas à emigração.

Já nos Aliados “estará exposto um conjunto de 30 testemunhos únicos de alunos – sobre saúde mental, abandono escolar, salários precários e emigração jovem - com alguns dos retratos de uma geração que não se resigna”.

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