Inglaterra no Porto. Mais do que uma aliança

Inglaterra no Porto. Mais do que uma aliança
| Desporto
Maria Leonor Coelho e Manuel T. Pérez

FC Porto e Arsenal medem forças esta quarta-feira a partir das 20h00, num duelo a contar para a primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, mas há mais a unir os dois emblemas para além da ambição de conquistar um lugar entre os oito melhores da Europa.

É tempo de puxar a fita atrás, até 1372, ano em que o Rei D. Fernando I assinou a mais antiga aliança política e militar do mundo. O Tratado de Tagilde, como ficou conhecido, foi firmado a 10 de julho, em Vizela, e assinalou o início da aliança Luso-Britânica.

Por se tratar de uma cidade portuária, a Invicta revelou ser um trunfo fulcral nas relações com os ingleses, em particular no que dizia respeito às trocas comerciais, nomeadamente a exportação de vinho, azeite, mel ou cortiça e a importação de têxteis, panos, lã ou cobre.

A ligação entre o Porto e Inglaterra estava muito longe de terminar após esse primeiro contacto.

 
 
 
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A chegada da comunidade britânica

O agravamento das tensões militares entre Inglaterra e França fez com que os britânicos perdessem o acesso ao vinho gaulês e decidissem procurar uma alternativa no Douro. Por esse motivo, a partir de finais do século XVII, uma vasta comunidade inglesa instalou-se na cidade do Porto e assumiu as rédeas do desenvolvimento e internacionalização do vinho produzido em Lamego.

A participação inglesa na produção e comercialização do vinho do Porto, como viria a ficar conhecido, fomentou o desenvolvimento da comunidade inglesa na cidade e lançou as bases para o surgimento de novas infraestruturas, como a Feitoria inglesa, espaço onde os britânicos se juntavam para tratar de negócios.

John Whitehead foi o principal responsável pela projeção do edifício da Feitoria e também teve influência na criação da primeira igreja anglicana e do primeiro cemitério no Porto. O cônsul britânico, que assumiu um papel fulcral nos primórdios da presença inglesa na Invicta, instigou João de Almada a construir o primeiro grande hospital da cidade - o Hospital de Santo António - que, mais tarde, viria a ser projetado pelo arquiteto inglês John Carr.

O antigo Palácio de Cristal, inspirado no famoso Crystal Palace de Londres e desenhado por Thomas Dillen Jones, é outro forte resquício da passagem inglesa pelo Porto. Essa presença também se fez notar no urbanismo e a Avenida dos Aliados, da autoria do inglês Barry Parker, é exemplo disso mesmo.

Uma paixão Made in England

A prática desportiva é um dos grandes legados da comunidade britânica no Porto. O desporto moderno surgiu em pleno século XIX, no Reino Unido, e espalhou-se pelos quatro cantos do mundo através das comunidades inglesas.

O mais antigo clube desportivo da Invicta foi fundado em 1855 pelos ingleses, estes deram-lhe o nome de Oporto Cricket and Lawn Tennis e o espaço serviu de berço para a prática de inúmeras modalidades entre as gentes tripeiras.

Além do verdejante espaço na zona do Campo Alegre, a burguesia inglesa radicada na cidade que deu nome a Portugal também teve influência no nascimento de outros emblemas de renome.

As raízes inglesas do FC Porto

O mais antigo clube do Norte de Portugal - um dos pioneiros do futebol ibérico - nasceu em 1893 na cidade Invicta, mas foi em Inglaterra que um aristocrata chamado António Nicolau d’Almeida concebeu a ideia de fundar o Foot-Ball Club do Porto.

O jovem comerciante de vinho do Porto tinha apenas 23 anos quando, numa excursão de trabalho a Londres, percebeu a importância e o potencial do desporto-rei, por isso, mal regressou a casa, decidiu pôr mãos à obra e erguer uma instituição desportiva capaz de implementar a prática da modalidade em Portugal.

Durante os 12 anos que se seguiram o FC Porto praticamente não existiu, já que António Nicolau d’Almeida acedeu ao pedido da esposa e se afastou do futebol, um desporto bastante violento na ótica de Hilda Rumsey. Contudo, em 1906, igualmente após uma viagem ao Reino Unido, José Monteiro da Costa convenceu os amigos do Grupo do Destino a retomarem a atividade desportiva do clube.

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