Israel intensifica operação no sul de Gaza. ONU fala em cenário "infernal"

Israel intensifica operação no sul de Gaza. ONU fala em cenário "infernal"
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Porto Canal / Agências

O exército israelita intensificou esta terça-feira as operações contra o grupo islamita Hamas no sul de Gaza, onde testemunhas relataram violentos combates, fazendo temer um "cenário ainda mais infernal" para os civis, segundo a ONU.

Empenhado desde 27 de outubro numa ofensiva terrestre no norte do território palestiniano sitiado, o exército israelita alargou as operações terrestres a toda a Faixa de Gaza, quase dois meses após o início da guerra desencadeada por um ataque do Hamas contra Israel.

Desde o recomeço dos combates, a 01 de dezembro, após uma trégua de sete dias, o exército israelita tem vindo a bombardear intensamente o sul de Gaza, matando e ferindo muitos dos habitantes da região e civis que aí se refugiaram, encurralados numa zona cada vez mais restrita.

Testemunhas relataram à agência de notícias France-Presse (AFP) violentos combates desde segunda-feira à noite perto de Khan Younis, o novo epicentro das tensões, e ataques aéreos em direção a Rafah, no extremo sul do território.

A agência de notícias palestiniana Wafa deu conta também de vários mortos num ataque na cidade de Gaza, mais a norte.

Também esta madrugada, o braço armado do Hamas anunciou que tinha disparado foguetes contra Beersheva, uma grande cidade israelita no deserto do Negev.

As organizações internacionais alertaram para os riscos que correm os civis em Gaza, onde "todos os serviços de telecomunicações" estão paralisados, devido a "um corte nas principais redes de fibra do lado israelita", segundo o grupo palestiniano de telecomunicações Paltel.

"Está prestes a desenrolar-se um cenário ainda mais infernal, ao qual as operações humanitárias poderão não conseguir dar resposta", afirmou a coordenadora humanitária da ONU para os Territórios Palestinianos, a canadiana Lynn Hastings.

A presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Mirjana Spoljaric, que chegou à Faixa de Gaza na segunda-feira, condenou o sofrimento "intolerável" da população.

"O que mais me chocou foram as crianças que têm ferimentos horríveis e que também perderam os pais e não têm ninguém para cuidar delas", acrescentou, sublinhando que os civis "não têm para onde ir".

De acordo com a ONU, 1,8 milhões de pessoas, cerca de três quartos da população total de Gaza, já foram deslocadas pela guerra.

"Vimos o que aconteceu no norte de Gaza. Isto não pode servir de modelo para o sul", acrescentou o diretor regional da Organização Mundial de Saúde (OMS), Ahmed Al-Mandhari.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou na segunda-feira que tinha recebido uma notificação do exército israelita a instruir a organização para "retirar" os seus fornecimentos de um armazém médico no sul da Faixa de Gaza no prazo de 24 horas, "uma vez que as operações no terreno o vão tornar inutilizável".

Mas o organismo de defesa israelita que supervisiona as atividades civis nos Territórios Palestinianos negou que tenha pedido à OMS para evacuar o armazém no sul de Gaza.

No entanto, o exército israelita pediu às organizações humanitárias internacionais apoio para "ajudar a criar infraestruturas" em Al-Mawasi, uma zona costeira no sul da Faixa de Gaza, entre Khan Younis e Rafah, para onde Israel está a pedir aos civis que se retirem.

Na segunda-feira, os militares afirmaram que estavam a atuar "com força" em Khan Younis, onde lançaram folhetos em alguns bairros avisando que "um terrível ataque está iminente" e ordenando aos residentes que abandonassem o local.

Dezenas de tanques israelitas e veículos blindados de transporte de pessoal entraram no sul do território palestiniano, perto de Khan Younis, onde alguns dos civis estão aglomerados, disseram testemunhas à AFP.

Num bairro devastado de Rafah, uma cidade na fronteira com o Egito onde os militares israelitas afirmaram estar a tentar destruir túneis subterrâneos do Hamas, procuravam-se sobreviventes entre os escombros, na segunda-feira.

O Ministério da Saúde do Hamas declarou na segunda-feira que 15.899 pessoas, 70% das quais mulheres, crianças e adolescentes, foram mortas desde o início dos bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, a 07 de outubro.

De acordo com Israel, 1.200 pessoas, na sua maioria civis, foram mortas pelo Hamas a 07 de outubro e cerca de 240 pessoas foram raptadas e levadas para o pequeno território palestiniano.

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