FC Porto e FC Barcelona. Adversários e aliados
M. Leonor Coelho e M. T. Pérez
Dois clubes fundados no século XIX, dois múltiplos campeões europeus e mundiais, dois emblemas ecléticos e duas instituições de projeção global com uma mentalidade orgulhosamente regional. Assim se podem definir FC Porto e FC Barcelona, dois dos três principais habitués da Liga dos Campeões e dois dos maiores movimentos populares e anti-centralistas da Península Ibérica.
De bases bem estabelecidas nas respetivas regiões - o Norte e a Catalunha -, Dragões e Culés apresentam-se há décadas como forças de combate ao poder neutralizador de Lisboa e de Madrid, mas há muito mais a unir os adversários dos próximos dias 4 de outubro e 28 de novembro, primeiro na Invicta e depois em Montjuic.
Desde logo um dos primeiros associados portistas. Natural da Invicta, Virgílio da Costa Neves estudou numa universidade alemã antes de se radicar na Cidade Condal por motivos profissionais. Apaixonado pelo desporto-rei, estreou-se pelo Barça em 1903 e por lá se manteve até 1906, ano de retoma da atividade desportiva no emblema portuense. De volta a casa, aliou-se a José Monteiro da Costa e assumiu o papel de sócio-fundador do renovado FC Porto.
Na “História do Futebol Clube do Porto”, Rodrigues Teles escreve sobre “a primeira viagem de um clube português” ao estrangeiro. Em 1921, acabado de disputar dois jogos na capital espanhola, os futuros (e primeiros) Campeões Nacionais rumaram à Catalunha para satisfazer a vontade dos locais de “verem um clube português nos seus campos”. Apesar de ter estado previsto um desafio com o FC Barcelona, este acabou por não se realizar devido a conflitos de agenda.
Os caminhos dos dois clubes viriam a cruzar-se em junho de 1949, mês das festas de São João em ambas as cidades. O Camp de Les Corts abriu portas a um embate de caráter amigável entre FC Barcelona e FC Porto para homenagear Josep Escolà, avançado catalão que assumiu um papel preponderante no ataque blaugrana durante duas décadas e que, por isso, teve direito a um jogo de despedida.
O “Gran Partido Internacional”, como ficou conhecido, opôs o campeão espanhol ao vice português e terminou 3-1 a favor dos da casa. Pelos visitantes atuaram Barrigana, Virgílio, Alfredo, Carvalho, Joaquim, Romão, Lino, Gastão, Serafim, Veleira e Diogenes.
Em 1968, José Maria Pedroto terá sido hipótese para assumir o comando dos Culés, revelou Alcino Pedrosa no programa da RTP “Grandiosa Enciclopédia”. Contudo, a transferência nunca se chegou a concretizar, ao contrário do que aconteceu com Bobby Robson que, em 1996, abandonou o banco das Antas rumo ao do Barça.
Constelação de estrelas no relvado do Dragão para o "adeus" ao Mágico
Em 2003, o FC Barcelona foi o clube convidado a inaugurar o Estádio do Dragão num duelo que acabaria por ficar para a história, já que assinalou a estreia de Lionel Messi - o melhor atleta da história do Barça e uma das figuras mais icónicas da história do futebol. Os portistas venceram 2-0 com golos de Derlei e Hugo Almeida. Esse resultado inverteu-se oito anos mais tarde, no Mónaco, onde Messi e Fàbregas decidiram o vencedor da Supertaça Europeia de 2011.
No verão de 2014 os catalães voltaram a pisar o relvado do Dragão no jogo de despedida de Deco, “mágico” que brilhou ao serviço dos dois clubes. Além do médio, agora diretor desportivo, existem vários outros atletas com os dois símbolos no currículo, como Vítor Baía (atual administrador da SAD portista), Aloísio, Fernando Couto, Juan Carlos Heredia, Juan Antonio Pizzi, Ricardo Quaresma, Cristian Tello ou Nico González, os hoquistas Edo Bosch, Carles Grau, Reinaldo García, Xavier Barroso, Edu Lamas ou Hélder Nunes e os andebolistas Gilberto Duarte ou Mamadou Diocou.
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