“A VCI é a trombose da cidade”. Moreira reconhece problema e aponta dedo a Governo e municípios vizinhos
Henrique Ferreira e Fábio Lopes
O trânsito na cidade do Porto é uma dor de cabeça diária para milhares de pessoas. O número de veículos em circulação continua a aumentar e agrava um problema de fundo da cidade, que tem na Via de Cintura Interna (VCI) o seu principal protagonista. Em entrevista ao Porto Canal, Rui Moreira reconhece o problema e define prioridades para descongestionar a “trombose da cidade”. A entrevista completa será publicada esta quarta-feira.
A Via de Cintura Interna é um dos principais problemas da cidade do Porto. A ligação desta via com a A3 representa um bloqueio constante daquele troço, que é um dos pontos mais críticos de todo o traçado, reconhece o autarca portuense.
“Há um tráfego e fluxo crescentes na VCI. Fluxos, alguns, gerados pela cidade – mercadorias e pessoas que entram na cidade e que circulam entre pontos da cidade, e depois há um problema que nos preocupa muito mais, que é o facto de haver um atravessamento, norte-sul e sul-norte, de automóveis e veículos de mercadorias, que a nosso ver não deviam passar pelo espaço urbano”, sublinha Rui Moreira, reforçando que o crescimento do trânsito na VCI está a transformá-la “numa trombose da cidade, sendo que toda a capilaridade do Porto fica afetada por isso”.
Recolocação de pórticos de portagem ficou na gaveta
O autarca lembra o grupo de trabalho que o Município do Porto integra, criado em 2018 para debater o problema e apresentar propostas para melhorar o seu funcionamento. Salienta ainda um conjunto de medidas apresentadas em abril de 2021.
“Houve um grupo de trabalho formado pela IP e com os municípios de Matosinhos, Maia e Porto que apresentou um conjunto de medidas que redefiniam o posicionamento dos pórticos. Quem vem de norte, de Vila do Conde, e vai para Matosinhos-sul, porque é que não usa a A4 e usa a VCI, apesar de ser mais distante? Porque não tem pórticos.” Assim, o que estaria em cima da mesa era uma recolocação dos pórticos. O autarca recorda que “infelizmente, quanto tudo estava preparado, Matosinhos saltou fora. Haveria, possivelmente, consequências políticas para Matosinhos.”
Diálogo com ANTRAM e inação do Governo
A Via de Cintura Interna (VCI) é uma via com perfil de autoestrada que contorna em anel a zona central dos núcleos urbanos do Porto e de Vila Nova de Gaia, numa extensão total de 21 km. Para obviar os problemas que lhe são reconhecidos, uma das soluções apontadas é a limitação do tráfego a pesados na VCI e o incentivo da utilização da CREP, com a isenção de portagens na circular regional externa.
Com vista à concretização desta ideia, Rui Moreira explica que o município do Porto encetou reuniões com a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias. Segundo o Presidente da Câmara, as condições colocadas pela ANTRAM para o uso de alternativas à VCI são simples.
“Qual era a pergunta que nós colocávamos? Era se, relativamente a esses veículos que fazem o atravessamento [da cidade], quais eram as condições que a ANTRAM colocaria para não utilizar a VCI no atravessamento. Estamos a falar de camiões que vêm de Aveiro para o Porto de Leixões. A ANTRAM disse que se não tivessem que pagar portagens na CREP estaria na disposição de fazer um pacto e abandonar a utilização da VCI”, salienta Rui Moreira, que acrescenta que o Governo, “até ao dia de hoje, foi incapaz de adotar medidas nesse sentido”.
“IP não terá feito o suficiente”
O Presidente da Câmara do Porto critica ainda a Infraestruturas de Portugal (IP), alegando que a empresa “não terá feito o suficiente” relativamente à VCI, uma vez que algumas medidas propostas pela Câmara do Porto nunca foram concretizadas.
“Nós gostávamos que a VCI, a nível de isolamento sonoro, tivesse barreiras mais eficientes. Há zonas da cidade em que a VCI potencia um ruído permanente e gostávamos que fosse feita alguma coisa. Gostaríamos que houvesse a disponibilização de veículos de recurso rápido, como há nas autoestradas concessionadas. Gostaríamos que houvesse mais inibidores de velocidades, apesar de já terem sido retomados os radares, achamos que há outras zonas em que podiam ser colocados”, salienta.
O independente Rui Moreira revelou ainda que a autarquia pretende que o nó de Paranhos seja reperfilado, no sentido de melhorar a ligação entre a VCI e o Polo da Asprela e Faria Guimarães.
“Municípios vizinhos não parecem estar particularmente preocupados”
Perante este cenário, Rui Moreira destaca a intenção da autarquia para promover alterações de fundo e tece críticas aos restantes municípios envolvidos. “Os municípios vizinhos não parecem estar particularmente preocupados com isto”, remata, apontando a necessidade de uma mudança civilizacional.
“Nós nos nossos hábitos continuamos a privilegiar o transporte individual e não queremos o transporte púbico, que também ainda não tem capacidade. Precisamos de uma mudança quase civilizacional”.
Portajar a VCI “não é evidente”
Quando questionado sobre a possibilidade de instalação de portagens na VCI, Rui Moreira diz que essa não é uma solução, e a ser adotada “teria de ser apenas para o trânsito que não é destinado ao Porto e que não é originário do Porto.” Ainda assim, Moreira defende que, por enquanto, não é necessário tomar medidas tão drásticas.
A entrevista completa será publicada esta quarta-feira.