"Esquecida" zona da Lapa terá 24 fogos reabilitados para habitação acessível. Investimento ronda os três milhões de euros
Fábio Lopes
Vinte e quatro fogos, atualmente devolutos, na histórica zona da Lapa, no Porto, serão alvo de uma reabilitação, com vista ao reforço da oferta de habitação acessível na cidade. A empreitada, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e da Câmara do Porto, representará um investimento de três milhões de euros.
Os trabalhos irão desenrolar-se na Rua Senhora da Lapa, na Travessa Senhora da Lapa e na Rua da Glória, dando nova vida a um canto da Invicta que, embora, com localização privilegiada, “está esquecida pelos serviços camarários”, afirma quem aqui morou toda a sua vida. Os sinais do tempo não passam despercebidos e uma regeneração urbana é um desejo antigo, que poderá agora ganhar novo alento.
O Monte da Lapa forma um dos antigos “bairros operários” da cidade, que se desenvolveram com a industrialização desta zona no início do séc. XX e que ainda hoje subsistem, com casas degradadas e com um obsoletismo a que os moradores querem pôr fim.
No que diz respeito à Rua Senhora da Lapa (32 a 60), a intervenção da autarquia portuense irá avançar em cinco prédios, a que correspondem 14 fogos, com tipologia entre T1 e T4. Neste momento estão a ser preparadas condições técnicas para lançamento de concurso público, sendo que o investimento estimado é de 1,7 milhões de euros.
No mesmo arruamento (84 e 96 a 100), o investimento ao abrigo do PRR prevê ainda a reabilitação de mais imóveis, no rés do chão e 1.º andar, que se encontram em mau estado de conservação. Estão a ser ultimados os projetos de especialidade, estando já concluído o projeto de arquitetura.
Na Travessa Senhora da Lapa (16 a 22 e 37 a 39), a Câmara do Porto será responsável pela reabilitação de cinco fogos, com tipologias de T1 e T2, representando um investimento de 627 mil euros. Já na Rua da Glória (71, 77), a autarquia irá recuperar dois fogos, 1 T1 e 1 T2, com um custo associado de 390 mil euros.
“Promessas há muitas, mas não se vê concretização”
Em tom melancólico, José Silva, nascido e criado na “boa zona da Lapa” realça que “isto já devia era ter sido feito há bastante tempo, mas, de qualquer maneira, há sempre tempo para se melhorar”. O proprietário do restaurante “Adega da Lapa” deixa ainda críticas à Câmara do Porto por ter deixado ao abandono esta zona “repleta de casas devolutas”.
“Mesmo pessoal que vem de fora não tem condições, nem lhes dão condições e depois isto cada vez fica mais degradado”, acrescenta o portuense “de gema”, sublinhando que “promessas há muitas, mas não se vê concretização”.
José Silva sustenta que “aquilo que é particular são já casas com valores muito grandes e o pobre, o remediado, não pode pagar 700 euros por um apartamento pequeno, que estamos aqui há beira deles. Bem precisamos que a Câmara faça alguma coisa pela boa zona da Lapa”, conclui.
A desconfiança impera entre os moradores e escassos metros mais à frente, Márcio Mesquita junta-se ao coro de insatisfação e atira: “Esta zona está um pouco esquecida agora está tudo virada para os hostel’s e para os turistas. O povo portuense está a perder a essência”.
“Isto está um descalabro”
Também Paula Almeida, moradora na Travessa da Lapa, deixa o seu diagnóstico e diz que esta poderá ser uma boa ajuda, uma vez que “o custo de vida está muito mau e aqui está um descalabro”.
O mercado habitacional em Portugal está há largos anos em ebulição, alimentado por uma subida contínua dos preços das casas, das rendas e pelo aumento das taxas de juro, sendo que, desde 2017, o preço de venda das habitações sobe a um ritmo médio de 9,7% por ano.
Para contornar as dificuldades sentidas, a Câmara do Porto tem em andamento iniciativas para atrair o investimento privado no aumento da oferta da habitação para renda acessível, nomeadamente o Porto Solidário.
Este programa de apoio à renda e prestação bancária é destinado a famílias que se encontram em situação de emergência habitacional. Só no ano de 2023 está prevista a atribuição 2,65 milhões de euros.
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