Mercado do Bolhão. Comerciantes reivindicam participação na gestão
Porto Canal / Agências
Mais de uma dezena de comerciantes do Mercado do Bolhão, no Porto, querem ter mais participação na gestão do equipamento, reaberto há sete meses, estando a planear reativar a antiga associação para estabelecer o diálogo com a autarquia.
O desejo dos comerciantes foi manifestado num encontro, autointitulado “A voz do Bolhão”, que decorreu na quinta-feira à noite, na Associação dos Inquilinos e Condóminos do Norte de Portugal, no Porto, e no qual marcaram presença mais de uma dezena de comerciantes, históricos e recém-arrendatários, com lojas no exterior, bancas e restaurantes no interior do histórico mercado.
Do encontro resultou o consenso entre todos os comerciantes de que os “próximos passos” visam a reativação da Associação de Comércio Tradicional Bolha de Água, criada em 2008, para estabelecer "pontes de diálogo" com a autarquia e para propor “um modelo de gestão do mercado participado pelos comerciantes”.
A par da reativação da associação, os comerciantes tencionam ainda fazer um levantamento dos constrangimentos e elaborar um relatório com esses dados.
Na reunião, onde também compareceram dois membros da direção do Mercado do Bolhão, Tânia Coelho e Francisco Castro, foram feitas críticas à gestão do histórico mercado, que reabriu portas em setembro de 2022, depois de mais de quatro anos de uma obra de restauro “exigente”.
“A voz do Bolhão está esmorecida”, afirmou Helena Ferreira, inquilina da loja 43 no exterior do mercado e proprietária da Oliva & Co, criticando a gestão do equipamento e a estratégia levada a cabo pela empresa municipal GO Porto.
A proprietária, que assinou o contrato de arrendamento em fevereiro de 2022, mas que, devido às “condições deficitárias nas quais a loja foi entregue”, ainda não abriu, considerou que “não existem pontes de diálogo”.
Nesta reunião foram também relatados alguns problemas, como o “sol a bater no pescado ou na carne”, a existência de “um ribeiro de água no meio das bancas” quando chove e de comerciantes “com multas de 4.000 euros por não cumprirem determinados requisitos do regulamento, como o fecho de cortinas”.
A Ermelinda Lopes, proprietária da peixaria a que dá o nome e descendente de uma das peixeiras mais antigas do Bolhão, foi atribuída a banca 179, situada por debaixo das escadas do mercado. E, é precisamente a localização que a está a fazer “perder o negócio”.
“Não se vende nada nos congelados. As [bancas] laterais estão péssimas. Está tudo a levar no corpo. Só quem está no meio é que vende. Nós é que estamos dentro das bancas, nós é que sabemos. Estamos esquecidas nas minas”, afirmou.
E acrescentou: “as pessoas falam, mas depois têm medo”.
A realização de pequenas feiras gastronómicas ou de promoção de alguns produtos no mercado foi também alvo de críticas por parte dos comerciantes.
“Nunca fomos integrados neste projeto de gestão do Bolhão”, defendeu Fernando Pinto, proprietário há mais de 30 anos do Bolhão-a-gosto e que aguarda há cinco anos por reabrir o espaço.
“Espero abrir no próximo mês”, disse, defendendo, no entanto, que o encontro não pretendia “resolver problemas individuais”, mas dar “voz” aos comerciantes.
“Já passámos por muitas lutas e conseguimos o que conseguimos”, referiu.
Já Sérgio Modesto, proprietário da Photomaton, loja situada no exterior do mercado, defendeu que o “princípio de tudo é o diálogo com a câmara”.
“Estamos aqui para acabar com a hostilização, vamos dialogar, isso é o mais importante”, disse Sérgio, acrescentando ser preciso “criar harmonia na marca Bolhão”.
Também presente no encontro, o arquiteto e antigo vereador da autarquia portuense Correia Fernandes destacou que “não há edifício que sobreviva sem alma”, e comparou o Bolhão à Fundação de Serralves e à Casa da Música para concluir “que não pode ser a empresa que constrói a gerir o equipamento”.
Correia Fernandes instou também os comerciantes a unirem-se para chegar a um diálogo com a autarquia.
Com 79 bancas, 38 lojas e 10 restaurantes, o Bolhão acomoda os frescos no piso térreo e os restaurantes no piso superior.
De acordo com a autarquia, neste momento, estão em funcionamento 76 das 79 bancas, 16 das 38 lojas e dois dos 10 restaurantes, prevendo-se a abertura de outros dois em maio.