Bispo José Ornelas defende que drama dos abusos pode servir para "purificar" a Igreja
Porto Canal / Agências
O bispo de Leiria-Fátima defendeu esta quinta-feira que o tema dos abusos sexuais “é um tema que não pode fugir do caminho quaresmal” e que “tomar a sério este drama será um modo de purificar e transformar positivamente a Igreja”.
O também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), na sua mensagem para a Quaresma dirigida aos diocesanos de Leiria, escreveu que é no “ambiente de conversão quaresmal” que são assumidos “a revolta e a humilhação pelos abusos sexuais que se verificaram na Igreja em Portugal nos últimos decénios”.
“Sem entrar em polémicas sobre números — qualquer caso é uma enormidade injusta e dramática na vida de cada pessoa que foi vítima —, não podemos deixar de repudiar, lamentar e pedir perdão a quem foi objeto de cada um destes repugnantes atos”, sublinhou José Ornelas.
Para o bispo de Leiria-Fátima, “repudiar e pedir perdão só têm sentido, porém, se significarem igualmente uma atitude ativa de não resignação e de determinada e concreta atitude de ir ao encontro de quem foi tão injustamente tratado e corajosamente se ergueu para denunciar, colaborando na reconstrução das suas vidas”.
“Deixar-se converter significa igualmente fazer justiça a esse sofrimento, tomando todas as medidas para evitar que se repitam e, na medida do possível, tratar igualmente daqueles que foram autores desses atos”, acrescentou o prelado na mensagem divulgada hoje pela diocese.
O bispo escreveu ainda que “Jesus não escolheu discípulos perfeitos. Aceitou-os sem nunca os rejeitar, mesmo quando mostravam incompreensão, falta de coerência, e até negação e traição. Mas também nunca se resignou à falta de correspondência deles, dizendo que veio para os pecadores, como o médico vem para os doentes. Essa é a atitude que Ele continua a ter para com a Igreja e para com cada um dos seus discípulos e discípulas”.
José Ornelas, naquela que é a sua primeira mensagem quaresmal dirigida à diocese de Leiria-Fátima, abordou ainda a Jornada Mundial da Juventude que se realiza em Portugal no próximo mês de agosto.
Segundo o bispo, aquela será “uma ocasião única de fazer a experiência de uma Igreja que fala todas as línguas e se exprime em todas as culturas da terra”.
“Acolher e viver a universalidade da Igreja, com os muitos milhares de jovens que chegarão a Portugal no próximo verão, significa estar presente, especialmente para os jovens. Para todos, trata-se de acolher e de colaborar para que essa festa da juventude, iluminada pelo Evangelho, possa acontecer entre nós”, acrescentou o presidente da CEP na sua mensagem.