Mobilidade suave no Porto: “É muito complicado andar de bicicleta na cidade”

Mobilidade suave no Porto: “É muito complicado andar de bicicleta na cidade”
| Porto
Leonor Hemsworth

Com o passar dos anos, têm sido cada vez mais as pessoas que, ao invés do transporte privado ou público, optam por deslocar-se de bicicleta de casa para o trabalho, passando por deixar os filhos na escola. Mas, para estas pessoas, como é que é circular na cidade do Porto? Estarão reunidas as condições para receber, de forma segura, os ciclistas?

O Porto Canal foi tentar responder a esta questão. Às 8h da manhã, hora de ponta, na Avenida da Boavista, o trânsito já estava lento e, no meio dos carros, dos autocarros e das já conhecidas obras do MetroBus, iam aparecendo dezenas de ciclistas.

É o caso de André Rangel, que pedala todos os dias, “faça chuva ou faça sol” e há já 4 anos, pela cidade do Porto. “É muito complicado andar de bicicleta na cidade. E agora com estas obras… Ou sigo o trânsito ou tenho de subir os passeios. Esta obra não assegurou que a via de ‘bus’ se mantivesse. Portanto, nas últimas semanas, tem sido mais complicado.”

Opinião partilhada, na generalidade, pelos restantes ciclistas. Defendem que, com as obras no meio da Avenida da Boavista, a deslocação de bicicleta se tornou ainda mais difícil, mas admitem que, mesmo com as vias a funcionar pela normalidade, o receio e medo é permanente.

Porto Canal

A maior parte dos utilizadores com que o Porto Canal falou já teve na iminência de ter acidentes com automóveis. Os ciclistas consideram que têm de ser criadas “as condições para as pessoas se sentirem mais à vontade em andar de bicicleta” na cidade, que passa por uma “maior consciencialização aos condutores de que têm de ter cuidado com os ciclistas na estrada”. Gonçalo Santos, que se desloca, uma vez por semana, de bicicleta, conta mesmo que quase já teve “acidentes, pela falta de civismo dos condutores” e deixa o lembrete: “os ciclistas também têm direitos na estrada”.

José Ferreira, que utiliza a bicicleta como meio de transporte já há algum tempo, fala na mesma questão. Reforça que, apesar de ver cada vez mais pessoas a adotarem esta forma de mobilidade suave, há também “muita gente que receia andar de bicicleta por causa da confusão do trânsito”. “Vejo muita imprudência dos condutores. Às vezes podem-se originar acidentes e quem sai pior é sempre o ciclista”, rematou José.

Sobre a utilização da bicicleta como meio de transporte na cidade do Porto Álvaro Costa, investigador da Universidade do Porto, concorda que “é muito difícil para os ciclistas circularem, é bastante perigoso”, contando que conhece casos em que “os ciclistas se sentem mais seguros em andar em contramão, de frente para os carros” uma vez que as vias ou até as próprias ciclovias são muito estreitas.

Porto Canal

O especialista acrescentou, ainda, que “o Porto é uma cidade difícil em termos de orografia e em termos de dimensão das vias”, o que torna complicado a existência de “corredores dedicados só para a circulação de bicicletas”. “O que foi feito até agora é muito incipiente, as pessoas têm muitas dificuldades em deslocarem-se de um sítio para o outro de bicicleta”, reforçou Álvaro Costa.

Quando se fala em soluções para que andar de bicicleta na cidade passe a ser mais seguro, o pedido dos ciclistas é muito concreto: mais ciclovias e que as mesmas sejam “consistentes e contínuas. Não pode ser, como em muitos casos, uma ciclovia que tem 100 ou 200 metros e depois é interrompida”, consideram os utilizadores.

A todos estes problemas, os ciclistas acrescentam mais algumas queixas: a falta de espaços exclusivamente dedicados ao estacionamento de bicicletas, que “quase não existe”, e a falta de convergência entre a bicicleta e os transportes públicos. “Falta a intermodalidade de operacionalizar o uso de bicicleta com os outros transportes, nomeadamente o metro. Porque entre as 8h e as 10h, que é quando as pessoas precisam de usar [o metro] para ir trabalhar, é interdito”.

Sobre este aspeto, Álvaro Costa considera que, “nas partes mais densas é impossível, na hora de ponta, podermos ter bicicletas nos transportes públicos. Os transportes públicos andam muito cheios e há falta de oferta em determinados eixos que fazem com que essas soluções mais integradas não estejam disponíveis”.

 
 
 
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