“Para ter uma casa, quase que deixamos de comer”. O retrato da procura de habitação no Porto

“Para ter uma casa, quase que deixamos de comer”. O retrato da procura de habitação no Porto
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Em 2022, os portugueses conheceram uma realidade habitacional que já não se verificava há 30 anos. Despejos, rendas aumentadas para o dobro e preços insuportáveis na procura por casas. Esta é a realidade da Ana e da Tatiana. Vivem na zona histórica do Porto e em Valongo, respetivamente, mas partilham a instabilidade e o medo pelo futuro que nunca foi tão desconhecido como agora.

A Ana e o Daniel pagavam 400€ de renda e foram, recentemente, surpreendidos pela senhoria. “De um dia para o outro, vimos uma proposta da senhoria para o dobro, portanto 100%. De 400 passamos a pagar 800€. E temos uma criança pequena, em idade escolar, a crescer”. O casal acabou por conseguir renegociar os valores, mas vê-se confrontado, na mesma, com um aumento substancial. “Pagamos 700€ por mês. Neste momento, a renda da casa representa 76% do nosso rendimento”.

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Noites sem dormir, dispensa e frigorífico mais vazio e falta de momentos lúdicos em família. “É frustrante e é muito triste”, comentam um com o outro, quando pensam há quanto tempo não vão jantar fora ou ao cinema.

“Para ter uma casa, quase que deixamos de comer. A habitação não é para os portugueses e muito menos para os portuenses, isto é para quem vem de fora”, acrescentou Ana.

Já em Valongo, nas periferias da invicta, o cenário não é muito melhor. “Eu já cheguei ao ponto de receber a dia três e ao dia 10 já não ter dinheiro”.

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A Tatiana vive com o marido e com as duas filhas bebés e tem uma ordem de despejo até ao dia 31 de novembro. “Estivemos a ver umas casas… Eu vejo T0 a 700€, é uma loucura e está a ser muito complicado. Eu tenho a opção de voltar para casa da minha mãe, mas como é obvio eu tenho a minha casa, a minha família e as minhas coisas, e é um bocado complicado eu dar um passo tão grande atrás. Já pusemos a hipótese de sair de Portugal, também está em cima da mesa”, contou.

Como estas duas famílias, há outras tantas. São cada vez mais os casos de pessoas que recebem ordens de despejo, que vêm as suas rendas a ser substancialmente aumentadas e que se vêm desesperadas por não conseguir, sequer, mudar de casa, tendo em conta a subida dos preços de habitação.

Entre 2019 e 2022, o preço médio das casas aumentou 38%, mais quatro vezes do que os salários dos portugueses, sendo que há três décadas que o custo médio de compra de habitação em Portugal não estava tão elevado como atualmente. Em 2022, os valores subiram 18,7%.

O cenário é geral a todo o país, mas o Porto é uma das cidades mais afetadas: um empréstimo para a compra de casa exige uma taxa de esforço de 50%, tendo o preço do metro quadrado disparado em todas as sete freguesias portuenses. Também em 2022 e na mesma cidade, o setor de arrendamentos cresceu 61,7% em algumas freguesias.

Os especialistas do setor não têm dúvidas de que os preços e as rendas das casas continuarão a aumentar.

 
 
 
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