Costa não via necessidade, mas ministro quis sair. E no PS, Pedro Nuno ainda terá futuro?

Costa não via necessidade, mas ministro quis sair. E no PS, Pedro Nuno ainda terá futuro?
| País
Henrique Ferreira

Foi com António Costa que ganhou destaque, mas foi também com ele que o perdeu. Pedro Nuno Santos está de saída do Governo oito anos depois. Para trás fica uma relação atribulada entre o primeiro-ministro e o jovem socialista que ainda sonha vir a sê-lo.

Apesar disso, e segundo o jornal Observador, o primeiro-ministro, que está esta semana de férias, estaria inclinado em permitir a continuidade de Pedro Nuno Santos na pasta das Infraestruturas e da Habitação. Ao que o jornal apurou, para António Costa, a saída do secretário de Estado Hugo Santos Mendes seria suficiente para resolver a questão.

Relação começou a arrefecer em 2018

A relação entre Costa e Nuno Santos começou a arrefecer em 2018. No congresso do Partido Socialista desse ano, o então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares quis reclamar para si o sucesso da “geringonça”. Nas entrelinhas deixava subentendido o desejo de, um dia, suceder ao primeiro-ministro. António Costa não terá gostado e colocou um ponto final nas dúvidas: “anúncio desde já que não meti os papéis para a reforma”.

Porto Canal

Pedro Nuno Santos no congresso do PS em 2018

Pedro Nuno Santos percebeu a mensagem e acalmou. Mas a verdade é que a “geringonça” o tinha colocado numa posição de destaque. Bloco de Esquerda e PCP viam-no como a solução para os entraves colocados por António Costa e, por isso, como hipótese válida para o futuro da liderança socialista.

Mesmo com a relação tremida, Costa confiou a Pedro Nuno Santos uma das pastas mais complexas do Governo. Nos bastidores socialistas falava-se num “presente envenenado”. Estaria o primeiro-ministro a sabotar o futuro do seu possível sucessor? O desenrolar da trama ditou que pode mesmo ter acontecido.

“Um dos grandes vencedores das autárquicas”

O tempo passou e Pedro Nuno Santos não teve o trabalho facilitado. Enquanto ministro lidou com crises, polémicas, “casos e casinhos”. Mas no seio do Partido Socialista a popularidade foi crescendo e os apoiantes foram-se somando.

Em 2021, em plena campanha para as eleições autárquicas, Pedro Nuno Santos fez um autêntico “roadshow” pelo país para apoiar os vários candidatos do PS. Segundo os analistas, com a pesada derrota de Fernando Medina, em Lisboa, o ministro foi mesmo “um dos grandes vencedores das autárquicas”.

Segundo André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, em entrevista ao Jornal de Negócios, “o fracasso de Medina” na capital colocava Pedro Nuno Santos em vantagem na corrida à sucessão de Costa na liderança do PS.

Porto Canal

O ex-ministro das Infraestruturas e Habitação em campanha para as eleições autárquicas no Marco de Canaveses

Pedro Nuno ignora Costa nas legislativas

Meses mais tarde e já depois da dissolução do Governo, Pedro Nuno Santos voltou a brilhar, desta vez na campanha para as eleições legislativas antecipadas.
Cabeça de lista pelo distrito de Aveiro, o ministro das Infraestruturas arrancou sorrisos, devolveu abraços e esteve junto dos eleitores durante quase um mês de campanha. Mas na reta final, voltou a beliscar a relação com Costa.

No comício de encerramento, e com António na Costa na primeira fila, Pedro Nuno Santos fez um discurso de quase 15 minutos sem nunca mencionar o líder do PS. Interrompido várias vezes por prolongados aplausos, a intervenção do ministro centrou-se nas raízes do partido e, mais uma vez, no sucesso da “geringonça”.

O “enfant terrible” ainda tem futuro no PS?

A fama de “enfant terrible” já é, no entanto, antiga. Ainda António José Seguro era líder do PS, quando o jovem Pedro Nuno Santos, à época estrela socialista em ascensão e vice-presidente do grupo parlamentar, “falava demais” e protagonizava a célebre frase: “aos banqueiros alemães até lhes tremem as pernas”.

Em causa estava uma possível suspensão do pagamento da dívida para obter, em troca, melhores condições de ajustamento.

Porto Canal

Pedro Nuno Santos na Assembleia da República, em 2011 

Pedro Nuno Santos foi crescendo, e aprendendo, e tornou-se um dos políticos mais influentes da sua geração. Apesar de não ser o primeiro a cair neste Governo (desde janeiro, já 10 membros do executivo apresentaram demissão) é a primeira baixa considerada de peso.

A dúvida paira agora sobre o futuro. Terão as polémicas manchado o currículo de Pedro Nuno Santos? Ou, pelo contrário, a pressão terá fortalecido o apoio das bases do partido? A certeza, para já, é apenas uma, segundo o jornal Público o ex-ministro deverá manter-se como deputado na Assembleia da República.

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