Número redondo: dez governantes já pediram a demissão do Governo de António Costa em nove meses
Francisco Graça
São dez os governantes socialistas (dois ministros e oito secretários de Estado) que já pediram a demissão ou foram demitidos desde o início da legislatura que marca a maioria absoluta de António Costa.
As eleições de 30 de janeiro deram aparente poder e controlo total do Partido Socialista, que avançou para a 15ª Legislatura da República Portuguesa, com trabalhos oficiais iniciados a 29 de março deste ano, com 120 de 230 deputados. Mas a maioria absoluta não tem sido sinónimo de tranquilidade para o primeiro-ministro, pelo contrário, desde maio que a sangria não tem parado.
Um PM e um Governo de truques, habilidades e trapalhadas geram instabilidade. O PS traiu a confiança que o povo lhe concedeu. O PSD continuará hoje a exigir as explicações que faltam e continuaremos a construir a Alternativa que dará ESPERANÇA a Portugal. NOVA FORÇA, NOVO CAMINHO
— Luís Montenegro (@LMontenegroPSD) December 29, 2022
Entre críticas da oposição – o presidente do PSD, Luís Montenegro, diz que o Governo “traiu a confiança do povo”, e André Ventura pede que Marcelo use a “bomba atómica” e dissolva o Parlamento – e até ataques da própria hoste socialista – os antigos ministros Pedro Siza Vieira e Alexandra Leita não têm poupado António Costa nos respetivos espaços de opinião em jornais televisivos – o Governo tem corrido sobre brasas. Estes são os dirigentes que já bateram com a porta desde o início dos trabalhos.
Sara Abrantes Guerreiro
Foi a primeira governante a dizer adeus, mas por motivos de saúde. A ex-secretária de Estado da Igualdade e das Migrações pediu renúncia ao cargo a 2 de maio, um mês depois de tomar posse.
Marta Temido abandou Governo depois da crise das urgências hospitalares e da morte de uma grávida
Marta Temido e secretários de Estado da Saúde
A 30 de agosto, depois do fecho das urgências hospitalares pelo país fora e da crítica generalizada à falta de cuidados em obstetrícia, a gota de água chegou com a morte de uma grávida, reencaminhada do Hospital de Santa Maria para outra unidade de saúde. Marta Temido assumiu a responsabilidade política pela morte, e com ela saíram, também os secretários de Estado António Lacerda Sales e Maria de Fátima Fonseca.
Miguel Alves
Durou dois meses no cargo. O antigo presidente da Câmara de Caminha tinha sido “promovido” a secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro para assegurar uma “comunicação eficaz” e ajudar a gerir as polémicas dentro do Governo. A escolha saiu ao lado, com o ex-autarca a ser acusado pelo crime de prevaricação no âmbito de um inquérito resultante de uma denúncia anónima aberto em 2019. Miguel Alves viu-se ainda envolvido numa investigação por ter adiantado 300 mil euros para pagar um pavilhão multiusos, cuja construção nunca avançou.
Rita Marques e João Neves
Para muitos, era uma dúvida como é que os secretários de Estado da área de Economia se mantinham no cargo depois de terem desafiado abertamente o ministro António Costa Silva na questão da descida transversal do IRC para combater a crise económica, em setembro de 2022. A demissão esperada acabou por acontecer dois meses depois, a 29 de novembro. João Neves, secretário de Estado da Economia, e Rita Marques, secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços foram afastado pelo ministro da Economia e do Mar por sentir que não havia “confiança política”.
Alexandra Reis
A ex-secretária de Estado do Tesouro esteve menos de um mês ao serviço do ministro Fernando Medina. A indemnização para sair da TAP de meio milhão de euros, a falta de explicações dos ministérios das Finanças e das Infraestruturas, o desassossego do Presidente da República e o desconforto de António Costa ditaram a demissão “forçada” pedida por Medina.
Pedro Nuno Santos e Hugo Santos Mendes
A crise do TAPgate não levou ao tapete apenas a secretária de Estado Alexandra Reis. Pedro Nuno Santos, o “enfant terrible” do PS, símbolo da esquerda socialista e “barão” das distritais e da ‘jota’, não resistiu ao acumular de casos. O ministro das Infraestruturas e da Habitação e o secretário de Estado Hugo Santos Mendes demitiram-se quase ao mesmo tempo: “o secretário de Estado das Infraestruturas entendeu, face às circunstâncias, apresentar a sua demissão”, explicava o comunicado de demissão de Pedro Nuno, enviado poucos minutos depois da meia noite.
Pedro Nuno Santos, ao centro, e Hugo Santos Mendes, à direita da fotografia, de óculos
Segundo o comunicado, foi ao secretário de Estado das Infraestruturas que a TAP comunicou que os advogados (da TAP e de Alexandra Reis) tinham chegado a acordo “que acautelava os interesses da TAP”, mas o Secretário de Estado das Infraestruturas, “dentro da respetiva delegação de competências, não viu incompatibilidades entre o mandato inicial dado ao Conselho de Administração da TAP e a solução encontrada”.
“Face à perceção pública e ao sentimento coletivo gerados em torno deste caso, o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, entende, neste contexto, assumir a responsabilidade política e apresentou a sua demissão ao primeiro-ministro", termina o comunicado