Cavaco insiste nos compromissos e avisa sobre “oscilações erráticas do tempo curto”
Porto Canal
O Presidente da República insistiu hoje na importância de uma cultura de compromisso, considerando que a prevalência das "oscilações erráticas do tempo curto sobre a perspetiva nacional do tempo longo" dificultará uma trajetória sustentável de desenvolvimento.
"Nos dias que vivemos, é natural que os cidadãos, confrontados pelas adversidades do quotidiano, sejam absorvidos pelas exigências imediatas do tempo curto. No entanto, temos de compreender, em definitivo, que existem na sociedade portuguesa desafios que só poderão ser vencidos numa perspetiva temporal alargada e no quadro de uma cultura de compromisso", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, na abertura da conferência "Portugal: Rotas de Abril", que decorre na Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Contrapondo o "tempo curto" e o "tempo longo", Cavaco Silva reiterou o apelo aos compromissos políticos, insistindo que há um conjunto de reformas no Estado e de orientações políticas estratégicas que devem ser objeto de um entendimento de médio prazo entre as forças partidárias, pois sem esse compromisso e "mantendo-se a prevalência das oscilações erráticas do tempo curto sobre a perspetiva do tempo longo, Portugal muito dificilmente será capaz de assegurar uma trajetória sustentável de desenvolvimento".
"Todos os portugueses, a começar pelos agentes políticos, devem perceber que a cultura de compromisso, típica dos países mais desenvolvidos da Europa, é essencial para a sustentabilidade do modelo social que permitiu progressos extraordinários em domínios como a educação e a saúde, a qualidade de vida das populações e a proteção social dos cidadãos que, devido às circunstancias, como a velhice, o desemprego ou a doença, se encontram particularmente vulneráveis", disse.
Contudo, vincou, se estes desafios se colocam a todas as democracias da Europa, elas adquirem "mais acuidade" em países como Portugal.
A este propósito, o Presidente da República voltou a recordar o "sério problema demográfico" que o país enfrenta e as "necessidades particulares" em relação à sustentabilidade da dívida pública e à criação de emprego.
Por outro lado, acrescentou, o sistema eleitoral proporcional, apesar da virtude de "dar voz mais ativa à diversidade de correntes e ao pluralismo de opiniões", dificulta que a estabilidade e a governabilidade sejam conseguidas apenas através do sufrágio.
"Por outras palavras, torna mais imperiosa a necessidade de uma cultura cívica de compromisso", sublinhou Cavaco Silva.