Chega: Partido de Ventura "seduz" do BE e CDU até à direita clássica

| Política
Porto Canal com Lusa

Évora, 19 set 2020 (Lusa) -- Na II Convenção Nacional do Chega, em Évora, há quem tenha dado uma "volta" de 180 graus, vindo do Bloco de Esquerda ou quem votasse PSD ou CDS-PP, e todos rejeitam conotar o partido com a extrema-direita.

"O último partido de que fui militante foi o Bloco de Esquerda (BE), mas desiludi-me, deixei de me identificar com o que eles defendiam e saí", contou hoje à agência Lusa Ricardo Cardoso, de 52 anos, de Évora e um dos cerca de 600 participantes na Convenção Nacional do Chega, que arrancou hoje na cidade alentejana.

O antigo "bloquista", que disse ter ficado "três anos fora da política", tornou-se militante do partido liderado por Ventura no ano passado, depois de ver "o André a falar na televisão" e ver que o discurso "se enquadrava" nas suas "ideias".

"Eu antes andava enganado. Era de esquerda" devido "às raízes familiares e nunca me tinha visto na direita, mas desiludi-me com a esquerda, com qualquer dos partidos, e o Ventura aproximou-se mais do que eu defendo", sublinhou.

Questionado pela Lusa sobre quais as ideias que encontrou "eco" no Chega, Ricardo Cardoso, secretário da comissão política distrital de Évora do partido presidido por André Ventura, indicou que quer "menos corrupção, mais igualdade e justiça e que as pessoas vivam melhor do que vivem".

Instado sobre se os outros partidos não têm também estes objetivos, o militante não se alongou, mas disse não acreditar neles: "Os partidos tradicionais é tudo para que já deu uva".

André António, de 39 anos, natural de Almada (Setúbal), mas a residir em Évora, admitiu à Lusa já ter votado no passado "na CDU para as autárquicas e para as legislativas", mas afiançou ser "de direita".

"Sou mais de direita, mas sempre votei em todos os partidos do espetro político português, inclusive no CDS-PP. Ou melhor, em todos menos no PS e no BE", assinalou André, farmacêutico de profissão.

O agora militante do Chega, no qual se inscreveu "recentemente", sendo tesoureiro da distrital de Évora, disse que, "desiludido com a política", chegou uma altura em que não lhe "apetecia mais votar", mas voltou a ligar à política devido ao "ímpeto mobilizador de André Ventura".

"O discurso dos outros não me preenchia e identifiquei-me com este discurso do Chega, porque defende menos impostos, mais segurança, mas também liberdade de expressão, porque vivi numa terra com muita pressão da esquerda e em que não senti essa liberdade", argumentou.

O Chega "é um partido antissistema, em rutura com os últimos anos", qualificou André, que, tal como Ricardo, alegou ser "um mito" conotar o partido com a extrema-direita ou com o racismo: "Eu não sou de extrema-direita, não sou racista, não sou homofóbico", afiançou, enquanto Ricardo disse ser "um partido do povo" e "à direita".

"Portugal está mergulhado num marxismo que nos vai levar à ruína e as pessoas têm que começar a acordar. No Chega vemos que estamos a ir para o caos e queremos ser a salvação do país", argumentou.

Ambos referiram concordar com o facto de a pena de morte ter sido "chumbada" no referendo interno do partido, mas, quando vêm "à baila" as ideias sobre a etnia cigana, defendem que "exigir às minorias que cumpram os mesmos direitos e deveres dos outros cidadãos não é discriminação ou racismo".

"Há ciganos e ciganos. Há os que trabalham e têm todo o nosso respeito e há os que querem viver na boa vida e nós a pagarmos", afirmou Ricardo, frisando, quando questionado pela Lusa, que a alusão a esta etnia não é racismo e afirmando-se defensor da castração química "para acabar com a pedofilia".

O presidente da comissão política regional do Chega na Madeira, o contabilista Fernando Gonçalves, de 43 anos, que sempre votou "na direita", nunca militou antes em partidos, mas está no partido de Ventura "desde a primeira hora" e "rumou" ao continente "de propósito para a convenção".

A corrupção e "a subsidiodependência" em Portugal são assuntos que o preocupam e que considera que "os outros partidos escondem", enquanto o Chega, que "não é de extrema-direita", é "o único que fala dos problemas da população".

Entre os 600 participantes na iniciativa em Évora, a maioria são homens. Há algumas mulheres, como a advogada e militante Cristina Silva, do Porto, que disse ter votado "a maioria das vezes num PSD que já não existe" e que se revê agora no Chega, que "não é um partido fascista", contra aquilo que considera estar "próximo de uma ditadura de esquerda".

Nas próximas eleições presidenciais, "há muita gente que vai votar no Ventura", alegou André, corroborado por Francisco, que afirmou ver hipótese de "uma 2.ª volta com Marcelo [Rebelo de Sousa]". E nas legislativas, o partido "vai ter muito mais deputados", garantiu Francisco.

RRL/SYM // JPS

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