Covid-19: Analistas com números díspares e incerteza sobre PIB do 1.º trimestre
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 14 mai 2020 (Lusa) - Três analistas ouvidos pela Lusa mostram-se prudentes na previsão do PIB nacional no primeiro trimestre, com a análise a ir de uma recessão de 2,7% até aos 5% em termos homólogos ou mesmo à opção de não apresentar números.
De acordo com o analista Pedro Amorim, da corretora Infinox, a recessão em termos homólogos (comparada com o mesmo período de 2019) no primeiro trimestre de 2020 poderá ir dos 3% aos 5%, e Nuno Mello, da corretora XTB, estima uma quebra de 2,7%.
Já em termos de quebra em cadeia, em relação ao último trimestre de 2019, Pedro Amorim aponta para uma quebra do Produto Interno Bruto (PIB) em torno dos 3%, e Nuno Mello demonstra mais otimismo, ao prever uma recessão de 1,8%.
"Neste primeiro trimestre já poderá ser de valores negativos, recessão, até porque na taxa de crescimento que tinha sido registada no último trimestre de 2019 já se notava algum arrefecimento, contudo uma correção dos dados destes quinze dias [os últimos de março] poderão levar a, por exemplo, -3% do PIB sem qualquer surpresa para nós", antecipa o analista da Infinox, sobre os números do PIB, que serão divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) na sexta-feira.
No entanto, Pedro Amorim assinala que "as previsões neste momento não devem ser rígidas, porque qualquer modelo matemático não está a conseguir resultar devido ao movimento excecional na economia".
Nuno Mello, da XTB, aponta para uma previsão "um bocadinho mais otimista", a apontar "para a casa dos -1,8% [em cadeia], uma vez que o impacto da pandemia basicamente só se fez sentir nas últimas duas a três semanas do mês de março".
"Tivemos bons dados no caso do défice da balança comercial, que é um dos fatores que mais impacto tem no PIB", em particular com "as exportações, apesar de terem caído 13% para um mínimo de seis meses, devido sobretudo à quebra na procura por veículos de passageiros, por exemplo, fornecimento industrial, bens de consumo", houve uma quebra nas importações de praticamente 12%, "sobretudo nas compras de equipamentos no setor de aviação e maquinaria".
Por outro lado, o analista Filipe Garcia, da Informação de Mercados Financeiros (IMF), preferiu não fazer previsões, prevendo sim que os números do PIB, que serão divulgados pelo INE na sexta-feira, terão de ser posteriormente revistos.
"Olhando para a definição mais utilizada do PIB, de consumo, gastos públicos, investimento e comércio externo, todas as componentes mexeram muito", pelo que foi difícil estabelecer um padrão para efetuar os cálculos, porque "as peças que fazem mover a economia estão com comportamentos muito irregulares".
No consumo, por exemplo, há "muitas dificuldades em medir qual foi realmente o impacto no consumo privado, porque por um lado é verdade que tivemos um maior consumo de supermercado e de alguns outros bens, mas tudo o resto paralisou".
Filipe Garcia explica que "é sempre mais fácil ir calculando em cima dos modelos que já estão afinados para uma determinada evolução", e depois ajustar "consoante um pequeno detalhe", mas que face à disrupção económica causada pela pandemia, relevou que "o que é difícil é mensurar no PIB como um todo todas estas variáveis, que estão todas a mexer muito".
No consumo privado, "há evidentes alterações nos padrões de consumo privado, quer pelo encerramento quer pelo receio por parte das famílias, quer por restrições do próprio rendimento disponível", aponta Filipe Garcia, referindo ainda que nos gastos públicos "houve uma alteração muito grande já no primeiro trimestre", devido a "apoios imediatos" prestados em março para combater a pandemia.
"Ao nível do investimento terá havido dois efeitos: por um lado um corte em tudo o que são despesas de investimento discricionário", e por outro "uma situação reportada, com alguma surpresa, de que [as empresas] podem não ter vendido mas produziram para 'stock', e isto também conta para o PIB", explicou o analista da IMF.
Já na componente do comércio externo, "o turismo em Portugal parou", e nos bens e serviços houve "flutuações enormes ao nível dos produtos petrolíferos", disse Filipe Garcia.
JE // JNM
Lusa/Fim