Teatro do Bairro estreia "As Cadeiras", de Ionesco, com encenação de António Pires

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 14 out 2019 (Lusa) - O espetáculo "As Cadeiras", de Eugene Ionesco, encenado por António Pires, que se estreia em Lisboa no dia 23, põe em cena três atores e centenas de personagens invisíveis, criando "jogos teatrais muito engraçados", mas também "muito desafiantes".

Numa encenação de António Pires para o Teatro do Bairro, "As cadeiras", de Eugene Ionesco, aqui numa nova tradução de Fátima Ferreira e Luís Lima Barreto, estreia-se em Lisboa no próximo dia 23 de outubro, e permanece em cena até 10 de novembro.

António Pires escolheu este texto, de que se confessa admirador, por ser uma "peça icónica", porque gosta de trabalhar o absurdo -- típico do teatro de Ionesco -- e por permitir uma grande liberdade de criação, contou à Lusa.

"Para já, fala de pessoas com muito mais idade, as personagens deveriam ter 95 anos e isso obriga a pôr em cena atores mais velhos, uma geração que não é a minha, e pormos em cena um jogo quase infantil, o que transforma o espetáculo numa coisa com muita humanidade, muito comovente".

Trata-se da terceira peça de Eugene Ionesco, publicada em 1953, depois de "A Cantora Careca" e "A Lição", sendo considerada uma das suas obras primas e um exemplo do seu teatro do absurdo.

Num espaço indefinido, um salão com duas janelas e várias portas, rodeado de água, portanto isolado do mundo, e num entardecer simbólico que evoca a morte que se aproxima, um casal de velhos sem idade, mas, segundo o autor, com mais de 90 anos, está à espera de uma data de gente porque quer transmitir uma mensagem, algo muito importante que vai salvar a humanidade.

Então as personagens vão chegando, mas como fisicamente não existem, vão sendo colocadas cadeiras em cena e os velhos vão falando com as cadeiras, como se estivessem lá pessoas, e vão recebendo estes convidados, vão falando com eles, com um coronel, com uma senhora, com várias figuras, explicou o encenador.

"Como não temos mais atores, é com as próprias cadeiras que vão falando. Isso possibilita um jogo muito divertido, as peripécias, o público pode imaginar o que é que os outros personagens estão a fazer. Eles vão estando nesse jogo durante o tempo todo, até que aquilo enche completamente e ele [o velho] diz que contratou uma pessoa, que é um orador, para falar com as pessoas, porque ele não tem jeito para falar. E quando o orador chega, eles suicidam-se e o orador fica com o legado da mensagem, só que o orador é surdo mudo. Basicamente a narrativa é esta".

Para António Pires, trabalhar este espetáculo foi "muito divertido", porque permite uns "jogos teatrais muito engraçados" e "o teatro é um bocadinho isto, é uma coisa da imaginação", imaginar tudo o que se passa, a conversa, a relação entre as pessoas, e criar uma situação em que o público acredita que está ali uma pessoa, e "cada pessoa vê o seu coronel".

Além disso, há "toda esta solidão, os personagens amam-se, riem-se muito um com o outro, esta solidão de pessoas muito velhas", que "transformam aquilo numa coisa muito humana, muito comovente".

O grande desafio para o encenador foi saber sempre onde os personagens imaginários estavam: "Os olhares, imaginar uma senhora que deixa cair o leque, tudo isso, fazer a 'mise en scène' de personagens invisíveis, e pôr os atores a jogar com essa coisa invisível foi muito desafiante, foi difícil, mas também muito divertido".

"Baralhávamo-nos um bocado. A dada altura já estão umas cem pessoas na sala e eles acabam encostados à parede, de tanta gente que está na sala, mas com quem eles conversam são para aí umas dez pessoas, que se mexem, mudam de sítio, e nós perdíamo-nos um bocado".

A peça conta com os atores Carmen Santos, Luís Lima Barreto e Rafael Fonseca, no elenco.

Tem música original de Miguel Sá Pessoa, cenografia de Alexandre Mesquita, desenho de luz de Rui Serra e os vídeos de cena foram dirigidos pelo realizador António Pinhão Botelho.

"Não há ninguém à nossa volta, ninguém no mundo, num mundo evanescente que desaparece, que deve desaparecer", escreveu Ionesco sobre a obra. "Os dois velhos que estão em cena são eles próprios quase inexistentes. Só lá estão para manipular as cadeiras, dezenas de cadeiras, e não para exprimir o vazio ontológico, que é o verdadeiro assunto da peça".

"Estes dois velhos são falhados sociais e irrisórios, mas entre eles há o amor. E neste mundo só há duas essencialidades: o amor e a morte. Quer dizer que o amor pode matar a morte", disse Ionesco, citado pela folha de sala da obra.

A estreia no Teatro do Bairro é antecedida pela antestreia em Almada, no Teatro Municipal Joaquim Benite, na próxima sexta-feira, dia 18, onde poderá ser vista durante o fim de semana, até domingo, dia 20.

Cumprido o cartaz em Lisboa, de 23 de outubro a 10 de novembro, o espetáculo "As Cadeiras" segue para o Theatro Circo, de Braga, onde subirá ao palco, nos dias 12 e 13 de novembro.

No dia 16 estará no Teatro Cinema de Ponte de Sor.

AL // MAG

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