Cientistas e indígenas pedem à UE que fomente comércio sustentável com o Brasil
Porto Canal com Lusa
Brasília, 26 abr 2019 (Lusa) - Mais de 600 cientistas europeus e cerca de 300 grupos indígenas instaram a União Europeia (UE) a fomentar um comércio sustentável com o Brasil, para evitar a destruição das florestas e para preservar os povos indígenas.
"A União Europeia precisa urgentemente de fortalecer os seus esforços no comércio sustentável e defender os seus compromissos em termos de direitos humanos, proteção ambiental e mitigação das mudanças climáticas", afirmaram os signatários de um manifesto publicado na revista Science, na quinta-feira.
A declaração denuncia que o bloco europeu, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, é "líder mundial" na importação de produtos agrícolas que "causam desflorestação", o que significou a perda de massa florestal equivalente ao "tamanho de Portugal entre 1990 e 2008".
Nesse sentido, o manifesto mostra que as florestas brasileiras perderam, em média, mais de um campo de futebol por hora entre 2005 e 2013, como resultado das importações da UE.
"A UE importou mais de dois mil milhões de euros em alimentos para a pecuária do Brasil em 2017, sem saber se foram cultivados em terras desmatadas ou associadas a conflitos" com tribos indígenas, destaca-se no manifesto.
O Brasil abriga grande parte da Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, e também povos nativos.
"A Europa é cúmplice dos crimes cometidos em nome da produção agrícola", disse a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara, citada no texto.
Por sua vez, a pesquisadora Laura Kehoe, da Universidade de Oxford e que estuda a forma como os hábitos alimentares podem causar desflorestação, pediu à UE no documento que "pare de importar o desmatamento e se converta num líder mundial em comércio sustentável".
"Pedimos à UE que aproveite esta oportunidade crucial para garantir que o Brasil proteja os direitos humanos e o meio ambiente", reforça-se na carta publicada na revista científica norte-americana.
Para isso, recomenda-se à UE "defender a Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas (...), melhorar os procedimentos de rastreamento dos produtos associados ao desmatamento e aos conflitos contra os povos indígenas", bem como "consultar e obter o consentimento" dos mesmos para definir critérios "estritos" sobre como comercializar certos itens.
Da mesma forma, cientistas e indígenas também denunciaram na publicação que, "enquanto o mundo olha para o outro lado, o povo do Brasil e as florestas que eles protegem estão a ser atacadas".
"A violência está agora a escalar para níveis recordes, com três ataques registados e pelo menos nove pessoas encontradas mortas" em áreas próximas a regiões desmatadas "desde o início deste mês", alertaram.
O Governo do Presidente Jair Bolsonaro, no poder desde o dia 01 de janeiro, "ameaça os direitos dos povos indígenas e das áreas naturais que os protegem", enfatizaram.
Bolsonaro, líder da extrema direita no Brasil e capitão na reserva do Exército, expressou o seu desejo de "explorar" a Amazónia juntamente com os Estados Unidos e reafirmou a sua intenção de não delimitar novas reservas indígenas, podendo até reverter algumas já homologadas.
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