Administrador do Hospital de Gaia confessa ter ficado surpreendido com demissões
Porto Canal com Lusa
O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho confessou hoje à Lusa ter ficado “muito surpreendido” com o anúncio da demissão do diretor clínico e dos 51 chefes e diretores de serviço.
“Fiquei surpreendido e não estava à espera. Para mim [o anúncio de demissão dos profissionais no início do mês] foi uma grande surpresa", afirmou em entrevista à Lusa António Dias Alves, uma semana depois de ter sido ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, em Lisboa.
Dias Alves assinalou que, perante os problemas públicos da unidade de saúde, a administração decidiu ouvir os profissionais de saúde, agora demissionários, para se inteirar das suas queixas e, posteriormente, realizou duas reuniões com “todos os quadros”, pedindo-lhes sugestões para ultrapassar os constrangimentos atuais.
Além disso, continuou, a administração apresentou um ofício ao ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, pedindo a resolução “urgente” dos “problemas graves” do hospital, desde falta de pessoal, equipamentos e instalações.
Nesta sequência, contou, realizou-se em meados de agosto uma reunião com “todo” o Ministério da Saúde, a administração do centro hospitalar e o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, da qual “todos os presentes, sem exceção,” saíram “satisfeitíssimos”, vincou.
“Saímos dela [reunião] todos satisfeitíssimos. O diretor clínico vinha muito satisfeito, sentimento que transmitiu na reunião seguinte do Conselho de Administração”, adiantou António Dias Alves.
Por esse motivo, e havendo já o compromisso do ministro da Saúde de investir no hospital, o presidente da administração considerou que o anúncio das demissões foi “precipitado”, podendo ter-se baseado num “estado de alma”.
“As pessoas precipitaram-se por pessimismo, por não estarem totalmente dentro do assunto ou por terem aceite eventuais conselhos ou opiniões. Quem esteve na reunião sabe que houve comprometimento do ministro e colaboração da Câmara na defesa do hospital”, vincou.
Dias Alves salientou que depois de Adalberto Campos Fernandes se ter comprometido em púbico e na estação pública televisiva, numa entrevista, não é necessário estar “constantemente a dizer a mesma coisa, porque toda a gente ouviu o que ele disse”.
Lembrando o grande investimento previsto, que ultrapassa os 40 milhões de euros, o responsável sublinhou que estas situações não são simples e, como tal, não se resolvem rapidamente.
Depois do anúncio da demissão do diretor clínico e de 51 chefes e diretores de serviço, a 05 de setembro, António Dias Alves revelou já ter conversado com alguns deles, acreditando que vão reavaliar a sua decisão.
“Estou tranquilo e sereno, não posso estar de outra maneira, sabem que estamos a trabalhar pelo hospital”, reforçou.
Considerando que “todos” já perceberam que a administração está a trabalhar intensamente para o hospital, Dias Alves revelou que enviou uma missiva aos profissionais, perguntando-lhes se estavam disponíveis para ajudar na formulação dos projetos para a Fase C das obras previstas, à qual “responderam afirmativamente”.
“As pessoas querem melhores condições de trabalho, portanto, é obvio que o desfecho vai ser feliz, porque a população vai ter um melhor hospital e os profissionais vão trabalhar num hospital onde lhes dá mais gozo trabalhar”, sustentou.
Para o “final feliz”, o presidente da administração só espera que as obras comecem, os profissionais sejam atribuídos e os equipamentos cheguem, concluiu.
A demissão do diretor clínico e dos diretores e chefes de serviço do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho foi anunciada a 05 de setembro, nas instalações do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto.
Os 52 profissionais redigiram uma carta de demissão em julho, altura em que ponderaram demitir-se, mas só no início deste mês concretizaram essa intenção.
Em conferência de imprensa, no Porto, o diretor clínico demissionário, José Pedro Moreira da Silva, apontou então como causas para a demissão coletiva as “condições indignas de assistência no trabalho e falta de soluções da tutela”.