Praxes: Ninguém quer ser a ovelha negra – sociólogo

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Porto Canal

 

Os estudantes de 1.º ano deparam-se com uma "situação de inevitabilidade" quando são praxados, defendeu também o sociólogo e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Numa sociedade com uma presença "cada vez mais forte do individualismo", os alunos "deixam-se alienar e entregar a situações de uma excitação descontrolada e de comportamentos irracionais", frisou.

Para o sociólogo, muitos dos estudantes "não têm sequer preparação" para rejeitar participar "em cenas, por vezes, doentias e escabrosas".

Elísio Estanque considerou que, depois, o estudante é capaz de "curtir e de se divertir" na praxe.

Elísio Estanque e o historiador Rui Bebiano realizaram um questionário, em 2006, a uma amostra significativa da comunidade estudantil de Coimbra, presente no livro "Do activismo à indiferença: Movimentos estudantis em Coimbra", em que, apesar de apenas 3,4% quererem a praxe extinta, 51,5% dos alunos achavam que a praxe devia ser revista e 67,3% concordavam que a praxe deveria reprovar qualquer violência psicológica ou física.

Contudo, os mesmos que acham que a praxe devia ser revista "são aqueles que participam", salientou o sociólogo, havendo uma "psicologia de massas" que influencia uma cultura "de esvaziamento crítico, embrutecimento, docilização e apatia política".

"Não é saudável nem democrático", referiu, comentando que em vez de uma "lógica cívica", na praxe, é evidenciada uma "lógica oportunista que leva ao caciquismo, a atividades ligadas às jotas [juventudes partidárias], ao seguidismo e ao carreirismo".

Esta lógica, de acordo com o professor da Faculdade de Economia, reforça o crescimento de uma "política populista e tecnocrata".

"Alimenta-se o respeito pela ordem e pela hierarquia e não pela irreverência e pelo questionamento, o que é preocupante", alertou.

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