Standard & Poor's prepara descida do 'rating' do Brasil devido à crise política
Porto Canal com Lusa
Nova Iorque, 23 mai (Lusa) - A agência de notação financeira Standard & Poor's disse hoje que colocou o 'rating' do Brasil, dois níveis abaixo da recomendação de investimento, em Observação Negativa devido à possibilidade de o escândalo político atrasar as reformas económicas.
"A colocação em Observação Negativa [CreditWatch, no original em inglês] reflete os riscos acrescidos de que uma resolução lenta ou disruptiva dos recentes desenvolvimentos políticos possam atrasar ou minar a capacidade da classe política brasileira de avançar com medidas económicas corretivas em tempo útil, ou seja, antes das eleições presidenciais e legislativas de 2018, quando os desfios económicos e orçamentais se acumulam", dizem os analistas.
Depois do mais recente escândalo de corrupção no Brasil, "o cenário político tornou-se outra vez mais complicado", dizem os analistas da S&P, vincando que "no meio da incerteza política os progressos sobre os consideráveis desafios económicos e orçamentais, no contexto de um já de si prolongado caminho de ajustamento, está em risco de ser adiado".
O 'rating' do Brasil, atualmente dois níveis abaixo do patamar da recomendação de investimento, ou seja, em 'junk' ou 'lixo, como é normalmente conhecido, pode ainda descer mais se a S&P concluir que o escândalo vai mesmo atrasar a implementação das reformas.
De acordo com os números oficiais, o Brasil está há dois anos em recessão, esperando-se que neste ano já apresente um ligeiro crescimento.
O escândalo de corrupção, investigada pela operação judicial Lava Jato, alargou-se a 18 de maio ao Presidente brasileiro com a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em causa está uma gravação de uma conversa entre o empresário Joesley Batista, da empresa JBS, e Temer sobre o alegado pagamento de uma verba ao ex-deputado Eduardo Cunha, que foi presidente do Congresso (parlamento) e principal aliado de Temer no afastamento de Dilma Rousseff da Presidência.
Nessa conversa, de acordo com os áudios divulgados, o Presidente terá recomendado ao empresário manter o pagamento de uma verba regular a Eduardo Cunha, acusado de vários crimes de corrupção.
Temer sucedeu há um ano a Dilma Rousseff, de quem era vice-presidente, mas, desde então, vários aliados têm sido atingidos pela operação judicial, por suspeitas de corrupção e de receberem pagamentos ilegais.
A degradação da situação política no país tem levado muitos dirigentes a exigirem eleições presidenciais (diretas ou via parlamento), já que Temer não tem um vice-presidente que o substitua no caso de abertura de um processo de destituição.
Após a divulgação do áudio, Michel Temer recusou, em várias declarações ao país, apresentar a demissão e já pediu a suspensão da investigação até que seja verificada a autenticidade da gravação.
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