População de Carnide "não está contra parquímetros, mas sim a forma como foram impostos"
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 06 abr (Lusa) -- Moradores e comerciantes da freguesia de Carnide, em Lisboa, ouvidos hoje pela Lusa afirmaram que "não estão contra os parquímetros, mas sim contra a forma como foram impostos", apontando que a EMEL "não respeitou nada nem ninguém".
Na noite de quarta-feira, os moradores de Carnide retiraram os parquímetros da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) que tinham sido ligados na sexta-feira, em protesto pela sua instalação na zona histórica da freguesia.
Os 12 parquímetros, colocados ao longo de quatro ruas e retirados apenas com força de braços, encontravam-se hoje de manhã na sede da Junta de Freguesia, dentro de uma carrinha daquela autarquia e aparentemente sem sinais de vandalismo, constatou a Lusa no local.
Menos de 12 horas depois de terem sido retirados os equipamentos, a maioria dos buracos já estavam tapados com calçada.
Além dos parquímetros, foram retirados também alguns sinais de trânsito referentes a estacionamento.
Na Travessa do Pregoeiro, uma das ruas cuja requalificação está prevista ao abrigo do Orçamento Participativo de Lisboa, António Correia abriu há 12 anos a mercaria gourmet "Dom Pingas" e explicou à Lusa que "as pessoas e os comerciantes não estão contra os parquímetros, mas sim contra a maneira como foram impostos", advogando que "a EMEL não respeitou nada nem ninguém".
"Como é que vamos ser obrigados a pagar se a estrada está cheia de buracos?", questionou, salientando que "as pessoas querem ter condições".
Já no Largo do Coreto, Sérgio Almeida, funcionário no restaurante "Carvoeiro de Palma" teme uma perda de clientela se o estacionamento continuar a ser pago naquela zona porque "já é difícil estacionar e os paquímetros não melhoraram nada".
Além de "os clientes terem de pagar mais para vir almoçar", Sérgio Almeida criticou o facto de "também os empregados não saberem bem o que fazer", uma vez que não tiveram conhecimento se teriam direito ao dístico de estacionamento.
Na Azinhaga das Carmelitas a Lusa encontrou Fernando Ferreira à janela de sua casa. Há 30 anos a viver ali, mas freguês de Carnide há 56, Fernando não se lembra de o estacionamento ser pago na zona histórica da freguesia.
"Não se admite, só em Portugal é que existe isto", vincou, destacando que "a rua está uma miséria, não se consegue andar de carro" devido à sua degradação.
Entretanto, já a EMEL e a Câmara de Lisboa tomaram posições sobre o assunto.
Enquanto a empresa municipal garantiu que a população e a Junta de Freguesia de Carnide estavam informadas da colocação dos parquímetros, o município de maioria socialista salientou que vai ser iniciado "o processo de reinstalação imediata" dos equipamentos retirados durante a noite, o que considerou como "um ato grave", de "deliberada danificação do património".
Fábio Sousa contrariou ainda declarações da diretora de Institucionais e Cidadania da EMEL, Helena Carvalho, que disse que o autarca não se manifestou contra quando se falou do assunto na reunião descentralizada ocorrida em janeiro.
O presidente da junta mostrou aos jornalistas um e-mail de fevereiro onde manifestou ao presidente do município ser "inoportuna a entrada da EMEL no centro histórico" da freguesia, "sem que esteja salvaguardada a criação de um parque de estacionamento e em curso as obras de requalificação previstas".
Enquanto acompanhava a Lusa numa visita aos locais onde os parquímetros foram retirados, vários cidadãos manifestaram intensão de acompanhar o autarca comunista aos Paços do Concelho ao final da tarde para entregar os parquímetros.
Hoje, quando for entregar os equipamentos aos Paços do Concelho, Fábio Sousa quer saber "datas concretas para o início do parque de estacionamento e das obras de requalificação de várias azinhagas previstas em diversos Orçamentos Participativos".
"Sabemos que a Câmara tem capacidade para isto e muito mais", observou, salientando ser "má-fé" do município que os trabalhos ainda não tenham sido iniciados.
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