Legislativas 2015

Passos “agarra” Costa

José Palmeira - 17-09-2015 19:34:19

A vantagem que António Costa trazia do primeiro frente a frente com Pedro Passos Coelho esfumou-se no debate nas rádios. Curiosamente, os papéis inverteram-se. Se no confronto televisivo era Costa quem tinha mais pressão, no segundo era Passos e ambos lidaram melhor com essa situação.

O líder do PS comprometeu a credibilidade das suas propostas ao não ser taxativo relativamente a uma questão objetiva. Onde é que vai cortar nas prestações sociais, como está previsto no seu programa. É verdade que o seu opositor já tinha falado nisso no debate anterior, acontece que desta feita foram os jornalistas a fazê-lo, de uma forma incisiva, e Passos Coelho limitou-se a remexer na ferida aberta.

A prestação de Costa, neste ponto, foi ainda agravada naquilo que ficou subentendido – não foi explícito – como uma recusa em responder positivamente a um repto de Passos Coelho no sentido de discutir com os partidos da coligação a questão da sustentabilidade da segurança social, seja qual for o resultado das Legislativas. Cai mal no eleitorado do centro, por natureza moderado, a fuga a um compromisso em matéria reconhecidamente importante. Além disso, a argumentação pareceu pobre porque se a reforma de 2007 de um governo PS foi assim tão eficaz em termos de sustentabilidade deste setor porque é que o atual programa do mesmo partido prevê cortes nas prestações sociais? Por outro lado, porque é que aquilo que ninguém gosta (cortes) é matéria para o Conselho de Concertação Social decidir e aquilo que é popular já está decidido e é anunciado pela candidatura socialista?

O último debate beneficiou da experiência do primeiro e foi, por isso, mais objetivo e esclarecedor, abrangendo matérias como as questões europeias que tinham ficado de fora no primeiro confronto. Começou, aliás, por introduzir a questão da Grécia, assunto sobre o qual o líder socialista revelou debilidades que o marcaram para todo o debate.

A exemplo do que acontecera com Passos Coelho no frente a frente televiso, António Costa terminou o debate em claro decrescendo, muito palavroso e repetindo frases feitas, sentindo os efeitos da sua prestação.

O reconhecimento disso mesmo aconteceu já fora do estúdio improvisado, nas declarações aos jornalistas que os aguardavam, tendo Passos feito uma declaração sem direito a perguntas, exibindo a “arrogância do vencedor” que Costa relevara após o debate anterior. Desta feita foi Costa que teve necessidade que lhe recolocassem a questão das prestações sociais, a que não respondera no debate, para tentar reparar os danos, após aconselhamento com os seus assessores. Tinham-se invertido os papéis.

É verdade que quando caminhava para o seu carro Costa ia sorridente, como há oito dias, mas desta vez o seu sorriso parecia “amarelo”.

Passos Coelho esteve longe de ser brilhante. Foi mais incisivo do que anteriormente e esteve mais próximo das prestações que costuma ter no Parlamento nos debates com a oposição.

Se o primeiro embate entre os dois líderes animou as hostes socialistas e aumentou a dinâmica da sua campanha, o último repôs o equilíbrio numa altura em que a mesma se vai iniciar oficialmente. Restam as sondagens para dar ânimo (ou desânimo) às caravanas partidárias que vão percorrer o país.

P.S. O debate nas rádios começou sete minutos depois da hora prevista, alegadamente devido a um atraso de vinte minutos na chegada de António Costa. Consta que terá ficado retido no trânsito. Ironia do destino para um ex-Presidente da Câmara de Lisboa.

 

José Palmeira
Centro de Investigação em Ciência Política
Universidade do Minho

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