Um medicamento, receitado para pessoas portadoras do HIV/sida, está a ser utilizado por pessoas que praticam sexo desprotegido, de modo a prevenir uma possíevl contaminação.

O Fármaco, com o nome de Truvada, também conhecido como "pílula do dia seguinte da sida", é composto por uma junção de emtricitabina e tenofovir, dois dos antirretrivirais mais eficazes no combate à infeção da sida. O uso com o objetivo de prevenir as infeções apresenta alguns riscos.

"É recorrente chegarem à urgência do hospital homens e mulheres a dizer que fizera sexo com pessoas infetadas e precisam do medicamento para se protegeream, sujeitando-se ao consumo de um medicamento que tem muitas contradições, embora não saibam se estão ou não infetadas.", confirmou ao JN um médico de um dos maiores hospitais da cidade do Porto, acrescentando que "o Truvada é conhecido como a pílula do dia seguinte da sida ou o comprimido anti-sida." e que, "o problema é que a pílula do dia seguinte evita uma possível gravidez, mas não é certo que o antivírico impeça o contágio de doenças como VHI.", acrescentou.

Aumento de 11% do consumo do Truvada

Além das pessoas que tomam o medicamento depois das relações sexuais de risco, também existem que o fazem antes da prática sexual.

Quem recorre ao consumo são homens que fazem sexo com outros homens sem preservativo; heterossexuais com parceiros de alto risco, como por exemplo, homens que utilizam drogas injetáveis; bissexuais que fazem sexo sem proteção e pessoas que, fazem praticam o ato sexual com alguém infetado.

Segundo números obtidos pelo Infarmed, confirma-se o aumento do consumo do medicamento. Este ano, entre janeiro e abril, o Estado gastou 78 milhões de euros na compra do medicamento, que representa mais de 11% que em 2015, no mesmo período de tempo.

Ao JN, Kamal Mansinho, médico responsável pelo programa de combate à infeção do HIV/Sida na Direção-geral da Saúde, confirmou que, ouviu 'boatos' de que o medicamento está a ser utilizado "de forma abusiva", e que muitas pessoas recorrem à internet para o comprar.

Nos hospitais, em Portugal, o medicamento é só receitado aos doentes que sejam portadores do vírus VIH e, em casos raros, em situações de risco continuado.

Uso excessivo constitui riscos

"O uso excessivo por decisão individual tem muitos riscos. O medicamento pode ser usado como proflilaxia antes e depois de relações sexuais, mas só terá alguma eficácia em casos de VIH e em mais nenhuma doença.", disse ao JN Kamal Mansinho, acrescentando que, "É preciso uma mudança de mentalidades. A toma de um comprimido não é garantia de proteção nem de segurança. Há uma falsa ideia de segurança que está lentamente a fazer aumentar a doença entre homens que praticams sexo com outros homens."

"O uso do preservativo é a maior profilaxia, não só contra a transmissão do VIH, como de um conjunto de outras doenças, também elas graves.", defende.

Os médicos receitam o medicamento "de acordo com a sua consciência" uma vez que, não há regras que os 'proibam' de receitarem o Truvada.

"Já receitei o fármaco a pessoas que não me contaram a verdade toda. Mas, entre não fazer nada e poder, hipoteticamente, impedir novos contágios, claro que opto pela segunda hipótese.", revelou um médico ao JN.

A Europa discute este aumento de consumo do Truvada. Em Espanha, a legislação sobre o tratamento do VIH terá novas regras ainda em 2016, de maneira a limitar o uso do medicamento.