Menos livros e jornais em Portugal
Porto Canal (LYV)
Estudos demonstram que as publicações impressas - jornais e revistas - estão em decréscimo, perdendo força face à era digital. O sector livreiro também tem vindo a perder força, com o decréscimo da venda de livros, o encerramento de cada vez mais editoras e a dificuldade, por parte das livrarias, se imporem no mercado face às grandes superfícies de venda a retalho.
Segundo um estudo realizado entre Fevereiro e Junho de 2014, denominado por "Comércio Livreiro em Portugal - Estado da Arte na segunda década do século XXI", encomendado pela APEL ao Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), demonstra que em 2004 havia 694 livrarias. Oito anos depois, já só se registavam 562 livrarias. Esta quebra acentuou-se principalmente com a crise económica e financeira, que se iniciou em 2008, como aferiu José Soares das Neves, investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL), em declarações ao Expresso.
Foi exactamente a partir desse período, que se começou a verificar “a adopção, por parte dos grandes canais de comercialização, de estratégias mais agressivas do ponto de vista comercial e promocional, que vieram prejudicar as livrarias independentes”, como afirmou José Soares das Neves, esse tipo de campanhas promocionais e práticas concorrenciais duras já existiam anteriormente, contudo foi nesse período que se agudizaram.
Em 1996, o Governo aprovou a Lei do Preço Fixo, que estabelece a fixação de um preço de venda ao público de livros que tenham sido publicados há menos de 18 meses (inclusive), não podendo ser vendidos com descontos superiores a 10%. A lei foi alterada, em Junho deste ano, no sentido de criar regras mais claras de fixação de preços para facilitar a fiscalização pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC). Contudo, a fiscalização desta legislação continua a ser um dos maiores dramas dos livreiros independentes, pois ainda "existe desequilíbrio da concorrência, e isso afecta não só os livreiros, como também os pequenos editores e a diversidade cultural", como explicou ao jornal Expresso, Jaime Bulhosa, fundador da livraria Pó dos Livros.
Jaime Bulhosa considera o “Ministério da Cultural essencial”, e por isso acredita que a abolição deste organismo, por parte do actual Governo, pode ter contribuído para a quebra do volume de negócios das livrarias independentes no contexto da crise económica, e ter prejudicado, de forma semelhante, outras áreas da cultura. A abolição deste implica também um desaparecimento dos incentivos, como aferiu o fundador da livraria Pó dos Livros.
Também a venda de jornais impressos em Portugal continua a descer. Tal como é possível compreender-se através de dados recentes da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) que revelam que entre Janeiro e Junho deste ano, se verificou uma quebra de 10 mil jornais impressos, em comparação com o período homólogo de 2014.
António Granado, jornalista e professor auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), afirma ao jornal Expresso que esta tendência não é exclusiva do nosso país e aponta dois factores essenciais para este decréscimo contínuo: "as alterações provocadas pela Internet" e a "dificuldade que os jornais tiveram em se adaptar às novas tecnologias". Acrescentou também, que a "redução drástica das redacções", fez com que os jornais perdessem "qualidade" e, consequentemente, leitores.
Granado, que outrora foi jornalista, recorda-se da chegada do digital às redacções e afirma que este foi acolhido com muitas reservas."O online era tratado como um produto de segunda, mantido sobretudo por estagiários e jornalistas que não eram do produto tradicional nem se queria que passassem a ser". Acrescentando-o que quando os jornais perceberam as potencialidades dos jornais, "já era demasiado tarde".
Contudo, o docente afirma que apesar de existirem "cada vez mais leitores [nas plataformas digitais] (…) eles não estão disponíveis para pagar porque o produto não é suficientemente bom". Segundo um estudo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), apenas 1% dos utilizadores da Internet pagou para aceder a notícias online no último ano, número praticamente irrelevante quando se estabelece uma comparação com a média global resultante de dez países analisados pelo Reuters Institute, que é de 11%.
Em declarações ao jornal Expresso, José Carlos Vasconcelos, director do Jornal de Letras, mostra-se mais optimista, aferindo que a descida das vendas de publicações impressas se trata de uma tendência "reversível" e que estas não estão condenadas à extinção, nem mesmo com o vigor do digital. "Quando se ultrapassar esta crise económica, creio que alguns jornais vão até recuperar as vendas, pelo menos parcialmente", diz. Acredita também que o papel e o digital poderão, portanto, funcionar numa "lógica de complementaridade e interação".