Queda do Governo Sócrates não pode ser atribuível a Ricardo Salgado
Porto Canal
O antigo ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, recusou hoje a teoria de que foi Ricardo Salgado, líder histórico do BES, que 'fechou a torneira' do financiamento ao Governo Sócrates, levando à sua queda.
"Não percebi a crítica que fez a Ricardo Salgado como estrangulador e responsável pela queda do Governo", afirmou o ex-governante durante a sua audição na comissão de inquérito parlamentar à gestão do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (GES).
Teixeira dos Santos apontou que foram as "dificuldades gerais de financiamento" da altura, coincidente com o auge da crise da dívida soberana que levaram Portugal (tal como a Irlanda e a Grécia) a recorrer ao apoio financeiro da 'troika' (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).
Por isso, "a queda do Governo não pode ser imputável ao BES ou a Ricardo Salgado", vincou, acrescentando que "haverá outras razões mais políticas" que explicam esse acontecimento da primeira metade de 2011.
"Podem atribuir ao Dr. Ricardo Salgado grandes poderes, mas a democracia continua robusta e tem vindo a funcionar", sublinhou.
A audição de Teixeira dos Santos abre um dia em que o protagonismo da comissão muda dos supervisores (já foram ouvidos o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, bem como Carlos Tavares, líder da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, e José Almaça, presidente do Instituto de Seguros de Portugal) para a esfera política.
À tarde, a partir das 15:00, será a vez de a comissão contar com a participação da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.
A comissão terá um prazo de 120 dias, que pode eventualmente ser alargado, e tem por intuito "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos, as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades.
Será também avaliado, por exemplo, o funcionamento do sistema financeiro e o "processo e as condições de aplicação da medida de resolução do BdP" para o BES e a "eventual utilização, direta ou indireta, imediata ou a prazo, de dinheiros públicos".
A 03 de agosto, o BdP tomou o controlo do BES, após o banco ter apresentado prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades.
No chamado banco mau ('bad bank'), um veículo que mantém o nome BES, ficaram concentrados os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas, enquanto no 'banco bom', o banco de transição que foi designado Novo Banco, ficaram os ativos e passivos considerados não problemáticos.