Corrupção em jogos do Benfica. Testemunho de Boaventura sem força para refutar declarações dos jogadores aliciados
Porto Canal
O testemunho de César Boaventura no seu julgamento por corrupção ativa não teve força suficiente para afastar tudo o que as testemunhas disseram, segundo o acórdão do julgamento do agente desportivo lido esta quarta-feira no Tribunal de Matosinhos. O empresário foi condenado por três crimes de corrupção ativa pelo aliciamento de jogadores para facilitarem em jogos contra o Benfica.
Segunda a leitura, os depoimentos de todos os jogadores ouvidos foram considerados “relevantes”, pela assertividade e espontaneidade do relato que fizeram e pela coerência.
César Boaventura negou a autoria dos factos, que ficaram provados neste julgamento, oscilando entre atribuir a origem deste processo a outros clubes que querem incriminar o Benfica.
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De acordo com a instância judicial, ficou provado que o empresário contactou Cássio, então guarda-redes do Rio Ave, e o tentou aliciar com 60 mil euros para facilitar no jogo contra o Benfica, proposta negada pelo guardião vila-condense.
Cenário semelhante com Marcelo, defesa da formação de Vila do Conde à altura dos factos. Não obstante, a tentativa de Boaventura foi infrutífera, uma vez que o jogador brasileiro também recusou a proposta feita.
A esta teia de aliciamentos junta-se ainda Salin, guardião francês que conta no currículo, igualmente com passagens pelo Rio Ave. Segundo o tribunal, César Boaventura terá contactado o atleta no Funchal, tendo oferecido ao mesmo um contrato no estrangeiro, que acabou também recusado pelo então guarda-redes do Marítimo.
Fica assim provado que o empresário nortenho, afeto às águias, “ofereceu vantagens ilegítimas” aos três atletas supramencionados, agindo de forma “consciente e deliberada”, tendo conhecimento de que as suas condutas “eram proibidas por lei”.
Arrancou em janeiro o julgamento em que Boaventura é acusado pelo Ministério Público de três crimes de corrupção ativa e um crime de corrupção ativa na forma tentada
Depois de Marcelo e Cássio, também Lionn confirmou no Tribunal de Matosinhos uma proposta para “facilitar” num jogo frente ao Benfica. O julgamento foi marcado por testemunhos de antigos jogadores que confirmaram as tentativas de aliciamento para perder em jogos contra o clube encarnado, na época 2015-16.
“Ele disse-me que tinha uma proposta para me fazer para o jogo do Benfica, que eram 80 mil euros em notas de 500 euros”, afirmou esta sexta-feira o atual diretor desportivo do Ribeirão 1968 FC.
Lionn afirmou perante o tribunal que lhe foi pedido que cometesse um penálti e fosse expulso durante o jogo, sinalizando a ação com um “murro no chão”.
Na sua primeira intervenção no julgamento, Boaventura refutou categoricamente as acusações dos ex-jogadores. “É uma pouca vergonha o futebol em Portugal. As pessoas deixaram de ter escrúpulos, acusa-se só por acusar. Estes jogadores não passaram dos salários base do futebol e, depois disto, ganharam muito dinheiro”, atirou o empresário.