Grande Reportagem Porto Canal. 55 anos depois. A história de um aeroporto

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Francisco Graça

Foi em 1969 que se criou o primeiro gabinete para estudar a construção de um novo aeroporto em Lisboa, mas será apenas em 2024 que o processo de 55 anos chega ao fim. Mas o que se sabe ao certo sobre o novo aeroporto?

O Porto Canal tentou perceber o que significa um novo aeroporto em Portugal, como vai alterar a paisagem, como vai afetar os portugueses, quanto vai custar e como pretende dar lucro, se falamos de futuro, ou de passado. Com uma pergunta:

E se o Novo Aeroporto de Lisboa não for necessário?

Esta é uma Grande Reportagem Porto Canal.

Onde vai ser o novo aeroporto?

O novo aeroporto de Lisboa (NAL) está a ser estudado por uma Comissão Técnica Independente (CTI), um conjunto de especialistas contratados pelo Governo de António Costa, com o apoio do PSD de Luís Montenegro. A decisão final será política, mas com um conjunto de dados científicos que auxiliem essa escolha.

A CTI avalia 21 fatores de escolha (entre acessibilidade ferroviária, pegada carbónica, população afetada, custos da obra, capacidade de expansão, entre outras) de cinco locais diferentes: Alcochete, Montijo, Santarém, Vendas Novas e Rio Frio/Poceirão. O relatório final deve ser entregue ainda antes do final deste ano, depois a última decisão fica nas mãos de António Costa.

Então, o que parecem indicar os dados da CTI? Existe uma preferência clara por uma única localização, colocando de lado os aeroportos complementares ou em dupla. A manutenção de dois aeroportos em Lisboa gera “ineficiências” e “duplicação de serviços”, e só pode ser considerada como “opção de transição”, diz a CTI no segundo relatório apresentado este verão.

Do lado da Margem Sul, Alcochete para colher mais simpatias políticas, apesar de condicionantes ambientais. Do lado norte, Santarém, um projeto de privados, tem feito um trabalho regular de apresentação de oportunidades e baixos custos de construção, apesar de maior distância à capital portuguesa e dúvidas de como a Vinci, dona dos aeroportos portugueses, reagiria a um novo competidor no mercado.

Quanto vai custar o novo aeroporto de Lisboa?

O valor final da construção de um aeroporto é altamente condicionado pelo local escolhido: o NAL na Margem Sul obrigaria à construção de uma cidade aeroportuária completa, com armazéns de manutenção de frotas, novas linhas rodoviárias e ferroviárias, terminais de autocarros, estruturas de apoio, escritórios e uma terceira travessia sobre o Tejo, que aliviasse o fluxo de trânsito em direção a Lisboa.

“O aeroporto é uma infraestrutura que requer investimentos de capital intensivo, e todos com retorno de longo prazo e vidas úteis superiores a 50 anos”, alertaram os especialistas ouvidos pelo Governo no primeiro relatório apresentado pela CTI em abril deste ano.

Em março de 2021, o presidente da ANA, José Luís Arnault, fez contas e avançou com um custo mínimo de quase 8 mil milhões de euros, antes da guerra da Ucrânia e da inflação. Desses, pelo menos 5 mil milhões vinham do Orçamento do Estado. Agora, o valor real está para lá dessa estimativa.

“É difícil de prever neste momento quanto custaria um aeroporto em Alcochete”, explica o consultor em estratégia comercial para a aviação, turismo e aeroportos, Pedro Castro. “A combinação dos valores do aeroporto em si, mas também das acessibilidades, leva-nos a 10 mil milhões de euros”. Este valor torna a construção do NAL no maior investimento público num único projeto da história da democracia portuguesa.

A norte de Lisboa, o preço de construção pode diminuir. A escolha de Santarém significa reaproveitar a A1, a autoestrada que passa a poucos quilómetros dos terrenos dos privados que promovem o aeroporto. Já existe uma linha ferroviária nas proximidades, que podia aproximar os 90 quilómetros que separam Santarém e Lisboa. Os privados anunciam publicamente que um novo aeroporto em Santarém custaria entre mil milhões e 1.2 milhões de euros.

Quanto tempo vai demorar a ser construído?

Um novo aeroporto demora tempo. Há o processo da própria obra, da construção de acessibilidades e de estudos de segurança a infraestrutura.

“O concessionário (ANA) aponta publicamente 12 a 15 anos para construir um aeroporto em Alcochete, porque é um aeroporto enorme, que precisa de grandes infraestruturas de acesso”, avalia o principal promotor da iniciativa privada de Santarém, Carlos Brazão.

Uma obra em Santarém acelerava o processo de construção das acessibilidades, e estaria pronto em metade do tempo do de Alcochete.

Que dúvidas ambientais existem?

As organizações ambientais rejeitam enfaticamente a construção de um aeroporto na zona do Montijo, por ser uma área de proteção de aves.

O presidente da Associação Zero, Francisco Ferreira, deixa claro que o Montijo é uma “opção inviável”. “O limite do aeroporto está encostado à zona de proteção especial do Montijo, mas também a uma zona especial de conservação. É uma das dez zonas húmidas mais importantes da Europa. É um risco para a aviação. A quantidade de aves que ali estão presentes, desde milhares de flamingos a muitas outras espécies”.

Alcochete também tem um conjunto de problemas. “Toda margem esquerda do Tejo é abastecida pelo grande aquífero da Península de Setúbal”, diz Francisco Ferreira. Fazer uma cidade aeroportuária na Margem Sul podia levar à eventual contaminação do aquífero.

 

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