BES: Juros da dívida e bolsas afectados por situação no Grupo Espírito Santo

| Economia
Porto Canal / Agências

Lisboa, 10 jul (Lusa) -- Os analistas atribuem à situação que se vive no grupo Espírito Santo a subida que se verifica nos juros da dívida soberana de Portugal no mercado secundário, assim como o atual mau desempenho dos mercados europeus.

"Pode-se obviamente relacionar com a questão do Grupo Espírito Santo [GES], pela questão do risco sistémico que o mercado teme. Questiona-se até que ponto uma instituição financeira desta dimensão não pode ter repercussões na economia e afetar a qualidade do crédito do Estado", afirmou o analista da Fincor Albino Oliveira à Lusa.

Albino Oliveira disse que a situação, em Portugal, do GES a juntar à situação, em Espanha, da empresa Gowex, que reconheceu a falsidade das contas dos últimos quatro anos, está a pressionar os juros da dívida de todos os países da periferia do euro (Portugal e Espanha, mas também de Itália e Grécia), enquanto os juros da dívida de Alemanha e França descem.

Também analistas internacionais falam da pressão que a situação do grupo de que o BES faz parte está a ter sobre os mercados da periferia, tanto de obrigações como de ações, assim como da forma como está a abalar a confiança dos investidores na zona euro.

"Portugal está claramente a alimentar o declínio nos mercados", afirma Renaud Murail, manager do Barclays Bourse, citado pela AFP, que considerou que "os investidores estão a questionar a força do Banco Espírito Santo e o impacto que pode ter em todo o país".

"As preocupações sobre a saúde do Banco Espírito Santo têm prejudicado o sentimento do mercado, com as ações de bancos a perderem em toda a linha", disse, por seu lado, Fawad Razaqzada, da Forex.com.

Também para o analista Markus Huber, da corretora Peregrine e Falcon, "não há dúvida" de que as manchetes que o BES está a fazer hoje contribuiem para a "queda forte nas ações portuguesas e de alguns outros países da periferia, como a Itália e Espanha". Ainda assim, considerou, nada indica para já que os problemas encontrados na ESI contagiem todo o sistema bancário português.

Sobre o efeito da situação no GES em específico nos juros da dívida de Portugal, Pedro Oliveira, operador de mercados do Banco Carregosa, diz à Lusa que "há realmente uma coincidência", já que "desde que os títulos do BES e da Portugal Telecom começaram a ser penalizados em bolsa que os juros da dívida têm tido subida significativa e aproximam-se agora dos 4% [no prazo a 10 anos]".

Para os analistas portugueses contactados pela Lusa, para regressar alguma tranquilidade ao mercado será preciso que tanto o BES como o Espírito Santo Financial Group (maior acionista do banco, com 25%) venham prestar esclarecimentos públicos.

Os juros da dívida portuguesa continuavam hoje a subir em todos os prazos, perto das 14:00, nomeadamente no prazo a 10 anos para os 3,926%.

Já o PSI20 estava a cair cerca de 4%, com todos os títulos no vermelho, já depois de suspensas as ações do BES e do ESFG. Os títulos do BES foram suspensos ao final da manhã de hoje pelo regulador do mercado, a CMVM, depois do Espírito Santo Financial Group (ESFG) ter pedido ao início da manhã a suspensão da negociação de ações e obrigações em Lisboa e no Luxemburgo.

Os títulos do ESFG negociaram hoje pela última vez às 09:02, altura em que seguiam a perder 8,9% para 1,19 euros, enquanto os do BES perdiam mais de 17%, a valer 0,51 euros, aquando a suspensão.

Na Europa, as principais praças bolsistas seguem no 'vermelho', com destaque para as da periferia, com Madrid a cair 2,74% e Milão 2,53%. Já Paris recuava 1,88%, Frankfurt 1,67% e Londres 0,93%.

Os mercados acionistas estão a ser também penalizados por indicadores que apontam para problemas na recuperação da economia da zona euro.

Os receios em torno da solidez financeira do GES tornaram-se mais fortes depois de ter sido noticiado que a subsidiária Banque Privée Espírito Santo estava em incumprimento no reembolso a alguns clientes que tinham aplicações em dívida da Espírito Santo International (ESI).

Nesta empresa de topo do GES, que controla o ESFG (que, por sua vez, controla a área financeira, em que se inclui o banco BES e a seguradora Tranquilidade), uma auditoria detetou este ano que não foram registados 1,2 mil milhões de euros de dívidas nas contas de 2012. Além disso, a 'holding' tem capitais próprios negativos de 2,5 mil milhões de euros, ou seja, está em falência técnica.

O Diário Económico noticiou hoje que a ESI está a avaliar um pedido de insolvência, num cenário que - de acordo com o jornal - poderá avançar se a empresa não conseguir chegar a um acordo com os principais credores.

A medida permitiria avançar com um plano de reestruturação que será aprovado pelos acionistas da ESI na Assembleia-Geral (AG) de 29 de julho, escreve o Diário Económico.

Na semana passada, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, disse no Parlamento que "não há razões para crer que há um problema de estabilidade financeira" no país por causa da situação no GES e que este não terá "consequências nas contas públicas".

Pela mesma altura, também o ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Guedes, negou que uma eventual revisão em baixa do 'rating' do BES tivesse impacto na imagem externa do país.

"Sinceramente, não me parece que haja qualquer extrapolação de problemas internos de um grupo privado para o país e para a República", afirmou.

IM // MSF

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