Morreu Isabel II, a rainha intemporal

Morreu Isabel II, a rainha intemporal
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Porto Canal

Isabel II morreu esta quinta-feira, aos 96 anos. Foi a monarca com o reinado mais longo da História britânica e só ficou atrás do rei francês Luís XIV. O Palácio de Buckingham anunciou a morte “pacífica” ao fim da tarde, no Twitter, após mais de cinco horas de apreensão no Reino Unido sobre o seu estado de saúde.

Nasceu princesa, terceira na linha de sucessão, tornando-se rainha, por capricho do destino, em 1952, após a abdicação do tio e a morte do pai. No trono britânico permaneceu uns históricos 70 anos, tornando-se na monarca com o mais longo reinado, que se estendeu do pós-guerra ao pós-covid, celebrados entre 2 e 5 de junho nas comemorações do Jubileu de Platina. Ao longo de décadas, liderou o país entre imensas convulsões sociais e políticas, e num mundo de enormes desafios para a monarquia. Desde a coroação de Isabel II houve sete papas, 14 presidentes dos EUA e 15 primeiros-ministros britânicos.

O destino ditou a subida ao trono

Sempre realçou que o seu papel não era governar, mas sim servir….

Lilibet, o cognome carinhoso da família mais próxima, nasceu a 21 de abril de 1926 no seio da família real britânica. Filha de Jorge VI e de Isabel Bowes-Lyon, pouco fazia prever que viesse a tornar-se rainha de Inglaterra, reinado que ocuparia metade do século XX e quase um quarto do século XXI.

A história mudou de rumo quando o tio sem filhos, Eduardo VIII, abdicou em 1936 para se casar com Wallis Simpson, uma norte-americana divorciada, pondo fim a uma calma vida familiar. O irmão, e pai de Isabel, George VI, herdou o trono, abrindo o caminho da coroa à primogénita, que, no dia em que celebrou os 21 anos, prometeu dedicar a vida "seja longa ou curta" ao serviço do país.

Com a coroação do pai Isabel passava a ser a herdeira presuntiva do trono. Anos depois, a morte prematura do pai, em 1952, chamou-a para o dever, que marcaria a sua vida, muito mais cedo do que seria de antecipar, quando tinha apenas 25 anos.

Anos antes, em 20 de novembro de 1947, Isabel casaria com o tenente da Marinha Filipe Mountbatten, um primo afastado que renunciou aos títulos de príncipe da Grécia e da Dinamarca e à carreira na Marinha Real britânica para se consagrar ao papel de príncipe consorte. Tiveram quatro filhos: Carlos (nascido em 1948), Ana, (1950), André (1960) e Eduardo (1964).

Nos primeiros anos de casamento e depois do nascimento do primeiro filho, o casal viveu na Villa Guardamangia, em Malta, onde o duque de Edimburgo estava destacado ao serviço da Marinha.

A aguardada cerimónia de coroação vista por milhões em todo o mundo

Isabel chegou ao trono com 25 anos e já com dois filhos, Carlos (herdeiro ao trono) e Ana. Quando nasceu, a ascensão era improvável, mas o destino alterou o seu rumo. Era a terceira na linha de sucessão, atrás do tio Eduardo e do pai.

Contudo, a notícia da morte do seu pai, em 1952, com 56 anos, vítima de uma trombose, iria colocá-la na rota do trono.

A notícia da morte do rei chegou-lhe no Quénia, no dia 6 de fevereiro, no âmbito de uma longa viagem que a deveria ter levado pela Commonwealth, com a Austrália e Nova Zelândia como destinos finais. Assim, “Lilibet” acabou por tornar-se na primeira soberana em mais de 200 anos a aceder ao trono enquanto estava no estrangeiro.

A cerimónia da coroação, na Abadia de Westminster em 2 de junho de 1953, foi transmitida pelo rádio em todo o mundo e, a pedido da rainha, pela primeira vez na televisão, atraindo uma audiência de milhões de pessoas. Um ritual com quase 900 anos de história.

Decidiu manter o nome: Isabel, tal como a quinta e última monarca da Casa de Tudor (1533-1603), passando, assim, a assinar como Isabel II.

Os primeiros anos como monarca

Os primeiros anos como rainha decorreram sob liderança do primeiro-ministro, Winston Churchill. Dias antes do chefe de Governo abandonar o número 10 de Downing Street, a rainha agradeceu-lhe a “sábia orientação” nos primeiros anos de reinado e disse estar “profundamente grata”.

Poucos dias antes de Churchill abandonar o poder, a rainha escrevia uma nota de despedida e agradecimento pela própria mão. Assume que, embora confiasse no sucessor, Anthony Eden, “seria inútil fingir que ele ou qualquer um dos que se seguirão no cargo será, para mim, capaz de ocupar o lugar de meu primeiro-ministro, a quem tanto eu e o meu marido devemos, pela sábia orientação durante os primeiros anos do meu reinado, razão pela qual lhe estarei para sempre profundamente grata”.

 

 

A BBC realça que este foi o momento que, “mais do que qualquer outro, transformou a televisão num meio de comunicação convencional”, ao incentivar e democratizar o acesso a este novo meio.

Em 70 anos à frente da monarquia, tornou-se na chefe de Estado mais viajada de sempre, tendo visitado mais de 100 países, alguns várias vezes, como o Canadá, Austrália e África do Sul. No início do reinado, fez uma viagem de seis meses por vários países da Commonwealth, a mesma que tinha sido interrompida aquando da morte do pai.

Particularmente marcante foi a chegada à Austrália e Nova Zelândia, tornando-se na primeira monarca em exercício a visitar aqueles territórios onde era rainha. Em Sydney e Camberra, Isabel e Filipe de Edimburgo foram recebidos com enormes banhos de multidão, praticamente parando o país.

A emblemática visita a Portugal

A rainha Isabel II de Inglaterra visitou Portugal em 1957, cinco anos depois de ter sido coroada. A RTP, recém-nascida, realizou a sua primeira grande cobertura noticiosa durante esse acontecimento. A visita aconteceu entre 18 e 23 de fevereiro de 1957 e concentrou as atenções do país e também do estrangeiro, num evento preparado com pompa e circunstância.

 

 

O filme da década de 60 marcada pela tragédia de Gales

A década de 60 ficou manchada por aquele que é apontado como um dos grandes arrependimentos de Isabel II desde que assumiu o trono. Na manhã de 21 de outubro de 1966, pelo menos 116 crianças e 28 adultos morreram na sequência do colapso de uma mina de carvão na cidade galesa de Aberfan. A escola primária da vila e várias casas ficaram soterradas por uma avalanche de lama e detritos. Isabel II só visitou o local uma semana depois da tragédia, decisão que lamentou mais tarde.

 

 

A década de 70 contou também com diversos momentos emblemáticos para o Reino Unido, nomeadamente a sua adesão à União Europeia, numa altura em que o declínio do Império Britânico era visível.

Quatro anos depois, Isabel II celebrou 25 anos no poder com o Jubileu de Prata com uma digressão pelos países da Commonwealth e celebrações faustosas na Grã-Bretanha.

No entanto, 1979 seria o ano do atentado contra Lord Mountbatten. Tio de Filipe, duque de Edimburgo, e primo de Isabel II, Mountbatten e outros três membros da família real morreram num ataque terrorista do Exército Republicano Irlan, este que seria um dos tópicos mais marcantes do reinado de Isabel II, um conflito que só terminou em 1998, com o Acordo de Belfast.

Já na década seguinte, O primeiro filho da rainha, príncipe Carlos casa-se com Diana Spencer, que viria a marcar profundamente a história e a perceção pública da família real britânica. O príncipe Carlos, como a sua mãe, é o herdeiro presuntivo há mais tempo a ocupar esta posição.

O matrimónio de ambos terminaria já depois do nascimento dos príncipes William e Harry, muito devido à relação entre o príncipe de Gales e uma antiga namorada, Camila Parker Bowles.

Morte de Diana

Um ano depois do divórcio de Diana e Carlos, a família real britânica era abalada por uma notícia dolorosa, a 31 de agosto de 1997. De Paris, chegava a informação de que Lady Di, também conhecida por “princesa do povo”, tinha morrido, com apenas 36 anos.

Seguia num carro a alta velocidade acompanhada por Dodi Fayed e o motorista, Henri Paul. Na tentativa de fugir à perseguição dos fotógrafos, o condutor perdeu o controlo do carro e embateu contra as paredes de um túnel de Paris, perto do rio Sena.

O choque e o luto estenderam-se globalmente, produzindo grande pressão na família real. Pela primeira vez, a monarquia inglesa rompeu com a tradição e organizou um funeral real transmitido para todo o mundo.

 

 

O novo milénio

Já no novo milénio, em 2002, ano do Jubileu de Ouro – 50 anos de reinado -, Isabel sofre com a perda da mãe e da irmã em menos de dois meses. Momentos que trouxeram a Isabel II os primeiros problemas de saúde que, ainda assim, nunca a afastaram completamente da vida pública até à atualidade, ainda que a conta gotas.

Continuou a viajar pelo mundo e a participar ativamente na vida dos britânicos, sempre com o seu estilo próprio, típico da monarquia constitucional. O papel da monarca britânica afirma-se essencialmente cerimonial e está acima das quezílias políticas.

Jubileu de diamante e o controverso Brexit

“Lilibet” alcançou, em 2012, um feito até então só conseguido pela Rainha Vitória: o Jubileu de Diamante, enquanto monarca do Reino Unido e da Commonwealth. Um momento verdadeiramente histórico e que ficará para sempre escrito.

A estoica longevidade da rainha chega até à atualidade, num novo mundo em constantes alterações sociais e políticas. Primeiro o Brexit alterou o rumo do país.

Três anos e meio depois de o acordo ter sido decidido num referendo por 52% dos eleitores, em junho de 2016, o processo provocou uma crise política devido ao impasse no parlamento, que rejeitou três vezes o acordo negociado pela antiga primeira-ministra Theresa May e forçou o adiamento da saída, mas acabaria por se tornar oficial no final de janeiro de 2020.

Theresa May acabou por se demitir e foi substituída por Boris Johnson, que só conseguiu ultrapassar o impasse após as eleições legislativas de 12 de dezembro de 2019, as quais venceu com maioria absoluta.

 

 

Posteriormente, a tempestade de covid-19 seria outro dos grandes desafios da reta final do reinado de Isabel II. Período que ficou marcado pela morte do seu marido, Filipe de Edimburgo, a 9 de abril de 2021, aos 99 anos. Para a história fica a imagem da monarca no funeral, na capela de São Jorge, a despedir-se do companheiro de vida desde 1947.

Uma vida plena, dedicada a servir uma nação. Adorada, idolatrada entrou no livro de recordes como a monarca mais antiga em mil anos de reis e rainhas Britânicos, superando os 63 anos e 216 dias que governou a sua trisavó, a Rainha Vitória. Presidiu sobre imensas convulsões sociais e políticas.

- Cumpriu mais de 21.000 compromissos públicos ao longo do reinado, desde visitas, condecorações ou inaugurações.

- Visitou mais de 100 países, incluindo 22 vezes o Canadá, mais do que qualquer outro país do mundo, e França 13 vezes, o mais visitado na Europa.

- A mais longa viagem a estrangeiro começou nas Bermudas em novembro de 1953 e terminou em Gibraltar em maio de 1954, cobrindo 13 países em 168 dias.

- Em 2016 recebeu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em visita oficial. Antes, já tinha recebido Jorge Sampaio, em 2002, Mário Soares (1993), Ramalho Eanes (1978) e Craveiro Lopes (1955).

- Pelo menos 35 países emitiram moedas com a imagem da rainha, que não precisa de passaporte ou carta de condução porque estes documentos são emitidos em seu nome pessoal.

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