Luis Pinheiro de Almeida reúne em livro a cultura "ié-ié" em Portugal

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 22 mai (Lusa) - Em Portugal existiram mais de trezentas bandas entre 1950 e 1960, marcadas pelos "ritmos modernos" do rock n'roll, e que integraram uma cultura, mal-vista pelo regime, apelidada de "ié-ié", segundo Luís Pinheiro de Almeida.

O jornalista e investigador é o autor da "Biografia do ié-ié" - a apresentar no sábado em Lisboa -, um livro que reúne, pela primeira vez de forma sistematizada, informações que traçam o perfil de um movimento musical, mas também cultural, que durou cerca de uma década em Portugal.

"O critério fundamental para o livro foi incluir todas as bandas que tivessem editado pelo menos um disco. Era impossível reunir todas, porque eram mais de trezentas e a informação escasseia", afirmou o autor à Lusa.

O livro apresenta as histórias de muitos dos conjuntos académicos, bandas rock n'roll, programas de rádio e concursos de música existentes na época.

Na obra estão nomes conhecidos, como os Sheiks, o Conjunto Académica João Paulo, o Quarteto 1111 e o Zeca do Rock, mas são reveladas também informações que possivelmente poucos saberão, disse Luís Pinheiro de Almeida.

E deu exemplos: Ana Delgado, hoje professora na Alemanha, foi a primeira voz feminina do ié-ié português, o músico José Cid pertenceu aos Babies, Fausto Bordalo Dias integrou os Rebeldes, em Angola, e os Titãs foram os primeiros a fazer uma versão elétrica de um tema de Zeca Afonso.

"O termo 'ié-ié' só aparece com os Beatles, mas acabou por designar tudo o que foi feito antes. Nos anos 1950 falava-se era dos 'ritmos modernos' e as primeiras influências vieram dos conjunntos italianos. E depois apareceram os [britânicos] Shadows que levaram à criação dos chamados 'conjuntos tipo Shadows'", afirmou Luís Pinheiro de Almeida.

A época ficou marcada pelo aparecimento de dezenas de bandas, muitas delas criadas no ambiente universitário - "Coimbra foi um berço" - por jovens da classe média com capacidade para adquirir instrumentos.

Mas muitos desses grupos, alguns dos quais instrumentais, tinham vida efémera, precisamente porque vinham do universo académico e por causa do serviço militar.

Há também registos de bandas em Angola e em Moçambique, de militares portugueses durante a Guerra Colonial.

O autor reuniu testemunhos de elementos das bandas biografadas ou a ela ligadas, como Luís Filipe Colaço e José Veloso, dos Álamos, Zeca do Rock e Rui Simões, realizador que foi "manager" dos Sheiks.

Luís Pinheiro de Almeida, nascido em 1947 em Coimbra, explica que ele próprio foi um "ié-ié": "Cabelos compridos, guedelhudos, portanto, camisas floridas, as boites, os concursos ié-ié. E eram mal vistos. Dizia-se que eram uma pouca vergonha, uns indecentes contra a moral e os bons costumes, uns revolucionários que queriam subverter o sistema".

A par das biografias das bandas, o livro inclui um prefácio de Luís de Freitas Branco, dos Claves, e uma introdução explicativa de Afonso Cortez.

"Biografia do ié-ié", uma edição Documenta, será apresentado no sábado no Teatro da Encarnação, em Lisboa, com a presença de Daniel Bacelar, Luís de Freitas Branco, os Ekos, Countrys e Discovers.

A propósito deste livro, deverá ser editada uma dupla compilação com temas portugueses e estrangeiros da época, e está a ser preparada uma digressão pelo país, com uma banda residente e músicos que pertenceram a grupos ié-ié.

Luís Pinheiro de Almeida, autor de "Beatles em Portugal" e co-autor de "Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa", prepara agora uma biografia da música moderna portuguesa dos anos 1960 e 1970.

SS // CC

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