Óbito/Carlos do Carmo: Fundação José Saramago destaca "elegância moral" do cantor
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 01 jan 2021 (Lusa) - A Fundação José Saramago recupera uma declaração do Nobel da Literatura sobre Carlos do Carmo, na qual destaca a "elegância moral" do fadista, para o recordar hoje, na rede Facebook, no dia em que o cantor morreu, em Lisboa.
"Há sempre alguma coisa de profundamente elegante no Carlos do Carmo", disse José Saramago, num depoimento filmado que a sua fundação hoje recupera para as redes sociais. "Uma elegância que não é só física, é também moral", uma elegância que era também algo "de novo", e que era "a voz do Carlos do Carmo", conclui o escritor, no depoimento de cerca de um minuto hoje recordado.
Carlos do Carmo emprestou a sua caligrafia para a nova capa da obra de José Saramago "O que farei com este livro?", publicada pela Porto Editora.
O encenador Pedro Penim, do Ballet Teatro, por seu lado, sublinha "o mau começo" de ano, com a morte do fadista. Carlos do Carmo ("Charles du Charme", escreve), "a lenda portuguesa, o homem com o veludo na voz, deixou-nos" ("the man with velvet in his voice, has left us"), escreveu, na sua página do Twitter.
O historiador de arte David Santos, atual curador da coleção de arte contemporânea do Estado, recordou a interpretação de "Um Homem na Cidade", de José Luís Tinoco e José Carlos Ary dos Santos, para escrever "Obrigado, Carlos do Carmo".
O investigador de música portuguesa João Carlos Callixto usou também as redes sociais para recordar "Carlos do Carmo ((1939-2021): Um homem para sempre no mundo...". E acrescentou: "Um muito triste início de ano".
O economista Francisco Louçã, antigo dirigente do Bloco de Esquerda, destacou, também no Facebook: "Um grande músico e um homem vertical".
O ator João Baião cita uma canção de José Luís Tinoco, interpretada por Carlos do Carmo, com "um grande aplauso" ao fadista, na sua página: "No teu poema existe um verso em branco e sem medida, um corpo que respira, um céu aberto, janela debruçada para a vida; no teu poema existe a dor calada lá no fundo, o passo da coragem em casa escura e, aberta, uma varanda para o mundo".
A morte de Carlos do Carmo surge também em publicações e agências estrangeiras, da Eurovoix, que acompanha o festival da Eurovisão, à WION News, rede indiana de notícias, que coloca o cantor em destaque, na sua página na rede Twitter, recordando "um dos mais amados artistas" portugueses, "conhecido pelo 'Sinatra' do sentimental e melancólico fado".
A agência France Presse fala de Carlos do Carmo como "a voz de Lisboa", e a espanhola Efe destaca-o como "a voz masculina do fado".
O escritor britânico David Bret, investigador e autor de várias biografias do mundo espetáculo, escreveu no Twitter: "Carlos do Carmo, provavelmente o maior cantor de Portugal, morreu poucas horas depois da chegada do Ano Novo. Por favor, Deus, pára de levar os melhores".
A Marinha Portuguesa reagiu igualmente no Twitter: "Lisboa, menina e moça acordou hoje mais triste. Desde o Tejo, até sempre, Carlos do Carmo".
Carlos do Carmo morreu hoje, aos 81 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O cantor despediu-se dos palcos em 09 de novembro de 2019, com um concerto no Coliseu dos Recreios.
Nascido em Lisboa, em 21 de dezembro de 1939, era filho da fadista Lucília do Carmo e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística em 1964.
Vencedor do Grammy Latino de Carreira, que recebeu em 2014, entre outros galardões, o seu percurso passou pelos principais palcos mundiais, do Olympia, em Paris, à Ópera de Frankfurt, na Alemanha, do 'Canecão', no Rio de Janeiro, ao Royal Albert Hall, em Londres.
A publicação do seu derradeiro álbum, "E Ainda?", prevista para o passado mês de novembro, foi anunciada hoje, para este ano, pela discográfica Universal Music.
O Governo decretou um dia de luto nacional para segunda-feira, pela morte de Carlos do Carmo.
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