Sindicato de Arqueólogos alerta para retirada de vestígios de antiga mesquita em Lisboa

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 25 set 2020 (Lusa) - O Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia (STARQ) pediu esclarecimentos à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) sobre a possível desmontagem de estruturas de uma antiga mesquita em Lisboa, no âmbito das obras em curso na Sé de Lisboa.

"Não se pode destruir um elemento patrimonial tão importante, do ponto de vista histórico, patrimonial, da cidade de Lisboa; é impossível aceitar uma coisa dessas, principalmente no âmbito de um projeto que o visa valorizar. É uma contradição absoluta e inaceitável", afirmou à agência Lusa a arqueóloga Jacinta Bugalhão, daquele sindicato.

Segundo a arqueóloga, o sindicato recebeu esta semana uma denúncia em como a DGPC tinha dado autorização para a desmontagem de estruturas referentes à antiga mesquita de Lisboa, no contexto do plano de reabilitação do claustro da Sé de Lisboa e musealização do seu espaço arqueológico.

Face à denúncia, Jacinta Bugalhão disse à Lusa que foi apresentado esta semana um pedido de esclarecimento, com caráter de urgência, à DGPC, do qual aguardam ainda resposta.

Aquelas estruturas e vestígios arqueológicos - de vários períodos, não só do islâmico - têm sido sucessivamente descobertos desde os anos 1990 e mais recentemente durante o projeto de reabilitação do claustro da Sé de Lisboa.

A arqueóloga, cuja área de investigação incide sobre o período islâmico, lamenta sobretudo "a falta de transparência do processo decisório" sobre o projeto.

Está também em curso uma petição pública dirigida ao presidente da Assembleia da República, que soma mais de 750 assinaturas, denunciando que a implementação do projeto na Sé de Lisboa implicará "que todos os compartimentos [da mesquita principal de Lisboa identificada na Sé Patriarcal] sejam destruídos com exceção de dois".

Os assinantes da petição querem que seja discutida e avaliada "uma alternativa ao projeto arquitetónico, de modo a preservar todo o complexo", que está debaixo da Sé Patriarcal e que, segundo Jacinta Bugalhão, se estende por três pisos de profundidade ao longo da encosta onde está localizada.

A Igreja e o Estado assinaram um protocolo em 2010 - com uma adenda em 2015 - para a reabilitação do claustro da Sé de Lisboa e musealização do seu espaço arqueológico, num projeto assinado pelo arquiteto Adalberto Dias, orçado em cerca de cinco milhões de euros, com inclusão de fundos europeus.

Em 2015, quando foi assinada a adenda, numa sessão pública na Sé, a arqueóloga Alexandra Gaspar explicou que as escavações arqueológicas já realizadas no claustro revelaram vestígios neolíticos, fenícios, romanos, visigodos, islâmicos e medievais, abrangendo 2.700 anos.

A descoberta sucessiva de novos vestígios - nomeadamente relacionados com a antiga mesquita - e a demora nas respostas da DGPC ao trabalho arqueológico, têm levado ao adiamento da conclusão do projeto, como noticiou o jornal Público em dezembro de 2019.

A Sé de Lisboa é um dos mais antigos monumentos da arquitetura medieval de Lisboa e a sua construção foi iniciada imediatamente a seguir à conquista da cidade aos muçulmanos, em 1147.

A agência Lusa pediu mais esclarecimentos à DGPC, não tendo obtido resposta em tempo útil.

SS (NL) // TDI

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