Covid-19: Economistas assinalam clareza das medidas anunciadas pelo BCE

| Economia
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 19 mar 2020 (Lusa) -- Três economistas ouvidos pela Lusa relevaram hoje a clareza das medidas do Banco Central Europeu (BCE) no que diz respeito à compra de ativos, depois da instituição ter anunciado a compra de 750 mil milhões de euros.

"Esta medida foi anunciada de uma forma clara, faz todo o sentido, está bem explicada e bem compreendida. Eu acho que a comunicação nestes períodos, por parte das autoridades, é muito importante", disse à Lusa o economista João Moreira Rato, ex-presidente do IGCP -- Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública.

O economista considerou que as primeiras comunicações por parte do BCE e de Christine Lagarde, a sua presidente, "tiveram problemas de ambiguidade, numa altura em que se está a lidar com uma certa quantidade de ansiedade nos mercados", devido aos efeitos da pandemia de Covid-19.

O Banco Central Europeu (BCE) aprovou esta quarta-feira compras de ativos no valor de 750 mil milhões de euros para tentar conter as graves consequências económicas da Covid-19, foi anunciado.

Também João Duque, professor do ISEG ouvido pela Lusa, observou a diferença entre as primeiras comunicações e a de quarta-feira, que se terá dado "provavelmente depois da Sra. Lagarde e os outros membros do BCE terem sido confrontados com mais um dia ou dois" de agitação na Europa.

"A Christine Lagarde é muito mais palavrosa, diz e reexplica as ideias, o que por um lado pode ser uma boa coisa, mas por outro pode ser uma forma de abrir o jogo, contradizer-se e baralhar-se, o que lhe aconteceu", considerou João Duque, algo que "não transmite uma grande confiança ao mercado".

No entanto, o economista do ISEG diz não saber "em que medida o 'show off' que vemos corresponde a uma alteração de relações a uma capacidade de ter percebido o que estava em causa" na atual crise.

Christine Lagarde "tinha uma série de medidas mas elas foram ultrapassadas pelos governos", e face a decisões entretanto tomadas no Reino Unido, Espanha ou França, "ela percebe e fazem-lhe sentir" o choque.

"O Estado espanhol não pode dizer que vai gastar 200 mil milhões de euros sem ter alguém que aguente e que diga que compra", considerou João Duque, lembrando que as compras de ativos pelo BCE servem para financiar a dívida emitida pelos países.

Já Filipe Garcia, economista da IMF -- Informação de Mercados Financeiros, considerou que, com a medida anunciada na quarta-feira, o BCE tentou "matar pela raiz qualquer indício de crise de dívida, ou seja, de alargamento de 'spreads' muito pronunciados de uns países face aos outros".

 "Acho que os mercados não têm gostado de uma aparente descoordenação dos bancos centrais e dos governos, cada um a avançar com as suas medidas", afirmou o economista da IMF.

Relativamente a consequências para países periféricos como Portugal, João Duque relevou a 'fatia' do programa de compra de ativos que poderá ser atribuída a Portugal.

"Se se fizer uma conta de 2,5%, que é o que pesa Portugal no BCE, a 750 mil milhões, dá 18 mil milhões. É o dobro daquilo que foi anunciado pelo Estado português", salientou, acrescentando posteriormente que agora Portugal tem "uma almofada diretamente proporcional" à sua dimensão na zona euro.

João Moreira Rato considerou que "esta decisão [do BCE] contribui para acalmar o mercado da dívida soberana", mas não deixou de ressalvar que a economia de Portugal "tem uma fragilidade em relação a outras, que é uma taxa de poupança muito baixa e poucas reservas para lidar com este tipo de períodos extraordinários".

"As pessoas não têm muitas reservas, as empresas não têm muitas reservas, e por isso o choque pode ser bastante maior se não houver liquidez disponibilizada", considerou.

Já relativamente ao perfil de Christine Lagarde, os três economistas recusaram fulanizar as medidas do BCE, com João Moreira Rato a afirmar que as medidas tomadas "são determinadas pelas áreas mais técnicas do BCE, em função das necessidades que se vão observando no mercado".

Filipe Garcia afirma que "não é Christine Lagarde que decide lançar um plano de 750 mil milhões de euros de obrigações sozinha", e que "se a Alemanha não estivesse de acordo, se os países do centro [da Europa] não estivessem de acordo", o projeto não avançava.

Já João Duque afirma que "era necessário estar dentro do grupo" de decisores para se perceber a influência de cada interveniente, e relembrou que "cada um tem um voto", entre Governadores dos bancos centrais e administradores do BCE, admitindo, porém, que há sempre "uma série de manobras" associadas às reuniões.

JE // JNM

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