Ucrânia: Referendo de domingo na Crimeia é etapa decisiva para integração na Rússia

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Porto Canal / Agências

Simferopol, Crimeia, 14 mar (Lusa) -- As respostas às duas questões colocadas aos eleitores da Crimeia no referendo de domingo poderão definir por muito tempo as relações entre a Rússia e o ocidente, que conhecem a sua pior fase desde o final da Guerra Fria.

"Aprova a reunificação da Crimeia com a Rússia como membro da federação da Rússia?"; "Aprova a restauração da Constituição da Crimeia de 1992 e o estatuto da Crimeia como fazendo parte da Ucrânia?", são as questões do referendo, onde se resume o dilema com que se confrontam os eleitores de uma região com dois milhões de habitantes, na maioria de origem russa, e com uma superfície semelhante à do Alentejo, mas cujo desfecho poderá encerrar o período de "desanuviamento" entre o ocidente e a Rússia, 25 anos após a queda do muro de Berlim, a posterior desintegração do bloco de leste e a dissolução da URSS.

A Constituição de 1992, adotada após o fim da União Soviética mas rapidamente abolida, previa para a península da Crimeia um estatuto de Estado independente no seio da república da Ucrânia.

No campo independentista e pró-russo, a ameaça "nazi" ou "fascista" tem sido frequentemente invocada para atacar as novas autoridades de Kiev, que receberam um apoio inequívoco dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) e já declararam o referendo "ilegal", apenas destinado a legitimar a "anexação" da Crimeia por Moscovo.

De novo, recorre-se à memória histórica e apela-se aos "sentimentos profundos", numa região com um turbulento século XX, que fazem regressar episódios ocorridos durante a guerra civil na Rússia soviética (1918-1921) ou recordar a colaboração de nacionalistas ucranianos antissoviéticos com a Alemanha de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

"Em 16 de março, vamos escolher", é a palavra de ordem dos apoiantes da secessão.

Três semanas após homens armados terem assumido o controlo do parlamento da região e instalado um governo pró-russo, na sequência do afastamento do Presidente ucraniano Viktor Ianukovitch, os cerca de 1,5 milhões de eleitores vão assim decidir se a região regressa à Rússia 60 anos após a decisão unilateral do dirigente soviético Nikita Khrushchev de integrá-la na Ucrânia.

Num território habitado por 60% de ucranianos de origem russa, muitos com passaporte russo, o desfecho da consulta não deverá surpreender, quando uma sondagem recente previa um "sim" esmagador à união com a Rússia.

O poder em Simferopol, apoiado pelos cerca de 30.000 soldados russos que terão entrado na Crimeia desde finais de fevereiro para manter sob controlo as unidades militares que se mantêm fiéis a Kiev, asseguram a legitimidade e transparência da consulta.

"Todos os eleitores da Crimeia vão poder exprimir-se de forma democrática", assegurou na quarta-feira em conferência de imprensa Rustam Temirgaliev, o vice-primiero-ministro da região.

"Estamos certos que a Federação da Rússia nos aceitará no seu interior na sequência do voto", acrescentou, citado pela agência noticiosa AFP.

No curto período de "campanha", nenhuma iniciativa foi organizada em defesa do voto "não". Os dirigentes da comunidade dos Tártaros da Crimeia, que representam entre 12% e 15% da população, apelaram ao boicote, enquanto os apoiantes da manutenção do território na Ucrânia, entre diversas intimidações, optaram pela discrição.

O vice-primeiro-ministro da região indicou que 1.200 assembleias de voto vão estar abertas em toda a Crimeia entre as 08:00 (06:00 em Lisboa) e as 20:00 (18:00 em Lisboa).

O resultado será validado se a taxa de participação ultrapassar os 50%.

PCR // JMR

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