Portugal muito dependente de sucessor de Draghi e pouco preparado para nova crise - Economistas

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Porto Canal com Lusa

Sintra, 19 jun 2019 (Lusa) - Os economistas sondados pela Lusa consideram que Portugal continua numa posição frágil para enfrentar uma próxima crise, estando muito dependente dos juros fixados pelo BCE, e antecipam que será difícil ao sucessor de Draghi tirar "novo coelho da cartola".

No entender de Joaquim Miranda Sarmento, professor de Finanças do ISEG - Lisbon School of Economics & Management, "Portugal continua numa posição muito frágil para enfrentar a próxima recessão e as crises nos mercados financeiros".

Para o economista, "a forma como a política monetária for conduzida nos próximos anos será determinante para o futuro de Portugal". Por um lado, Joaquim Miranda Sarmento indica que uma mudança muito rápida de política monetária, com uma subida de juros e redução do valor das dívidas públicas no balanço dos bancos centrais, "criaria sérios problemas ao refinanciamento da dívida pública portuguesa".

"Mas, por outro lado, esta política monetária com o excesso de liquidez e as taxas de juro próximas de zero também acarreta riscos muito elevados", alertou.

Ricardo Reis, professor na London School of Economics, explicou à Lusa que, "sendo uma pequena economia bastante endividada, Portugal depende muito do comportamento das taxas de juro fixadas pelo BCE de duas formas": em primeiro lugar, pelo efeito que têm na capacidade de financiar a dívida e, em segundo, "porque uma recessão no resto da zona euro, o grande mercado para as nossas exportações, rapidamente se alastra para a nossa economia".

Para Ricardo Cabral, professor da Universidade da Madeira, a política monetária do BCE e o programa de expansão quantitativa, em particular, pode ser interpretada como "um balão de oxigénio que permitiu à zona euro ganhar tempo, alguns anos, para corrigir as deficiências da arquitetura do euro", resultando numa "reestruturação suave das dívidas dos Estados-membros".

Contudo, Ricardo Cabral apontou que essa reestruturação de dívida foi demasiado pequena para fazer a diferença e advertiu que "se a arquitetura da zona euro não for alterada para melhor (e tal não ocorreu desde 2012, antes pelo contrário), tudo isso terá sido em vão, porque a atual arquitetura é insustentável. E será muito difícil a qualquer sucessor de Draghi tirar novo coelho da cartola".

No entender de João Duque, professor de Finanças no ISEG, o BCE, sob a liderança de Mario Draghi, "ajudou a desenvolver esquemas para apoio às economias em dificuldades de financiamento e esquemas de apoio à travagem da deflação na zona euro".

Para o economista, estas segundas medidas "foram desenhadas em abstrato, embora pela dimensão das economias se tenham dirigido mais para as economias da Europa central ou do eixo França-Alemanha".

João Duque alertou que: "Se vier outra crise com outros protagonistas teremos que mostrar que usámos o nosso tempo para nos prepararmos. E aí vamos ver."

Questionados sobre se a economia portuguesa aguenta uma política monetária do BCE menos acomodatícia, Joaquim Miranda Sarmento, respondeu que, neste momento, o BCE já não compra divida pública, apesar de manter um valor muito elevado no seu balanço, juntamente com o Banco de Portugal.

"Vamos ver. Durante estes anos fizemos as reformas e criámos as dinâmicas para o desenvolvimento? Não me parece. Duvido", respondeu João Duque, adiantando que "os resultados começam a estar à vista com o abrandamento da economia europeia e mundial".

Mas o economista afirmou ter "esperança" de que a dinâmica da economia portuguesa, que está na exportação de bens e serviços, "acabe por minorar esses impactos".

No mesmo sentido, Ricardo Cabral considerou "pouco provável" a economia portuguesa suportar uma política monetária menos acomodatícia, sem haver "alterações profundas na arquitetura da zona euro, nomeadamente que resultem em maiores transferências orçamentais entre estados membros".

O economista sublinhou que Portugal tem um nível de dívida externa demasiado elevado e uma balança externa aproximadamente equilibrada e, deste modo, uma política monetária do BCE menos acomodatícia resultará num agravamento do défice da balança de rendimento primário.

"Também é provável que o aumento das taxas de juro leve agentes económicos, nomeadamente investidores e especuladores institucionais, a duvidar de forma crescente da capacidade do país em cumprir o serviço das suas dívidas externa e pública e em manter-se no euro", acrescentou.

"Contudo, as expectativas atuais são de que a política monetária do BCE se manterá acomodatícia durante vários anos, pelo que julgo que o cenário mais pessimista não se colocará para já", concluiu.

Na opinião de Luís Campos e Cunha, "a economia portuguesa está hoje muito melhor preparada para enfrentar crises que possam vir de fora", frisando que "as mais difíceis serão as eventuais crises que venham de dentro do país", uma vez que, a ser ver, "o sistema político nacional está, embora sem dramas, numa situação que levanta algumas preocupações".

Para o antigo ministro das Finanças, "uma futura política monetária menos acomodatícia é uma certeza, só não se sabe quando" e Portugal "terá tanto menos problemas quanto reduza nos anos que correm o nível enorme de dívida pública", acrescentou.

Mario Draghi está em Portugal a participar na sua última edição do Fórum do BCE enquanto presidente da instituição, sob o mote dos 20 anos da zona euro.

O mandato de Draghi termina em 31 de outubro e os nomes mais referidos para lhe suceder incluem o governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau, o membro da Comissão Executiva do BCE, Benoît Coeuré, o governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, e o seu antecessor Erkki Liikanen, e o presidente do Bundesbank (o banco central alemão), Jens Weidmann.

ECR // MSF

Lusa/fim

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