Peça da dramaturga Carole Fréchette estreia-se em Sintra com presença da autora

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 27 set (Lusa) -- A intimidade, no sentido mais trágico da vivência a dois, é o centro da peça "João e Beatriz", da dramaturga canadiana Carole Fréchette, que se estreia a 04 de outubro, na Casa de Teatro de Sintra, na presença da autora.

"João e Beatriz" é a terceira peça da dramaturga canadiana a ser levada à cena em Portugal, e versa sobre duas personagens que, embora estejam condenadas a partilhar o mesmo espaço físico, "não comungam dos mesmos valores, das mesmas referências, nem dos mesmos sentimentos", disse à agência Lusa a atriz e encenadora Sofia Borges.

"É trágica no sentido em que há um autismo em relação àquilo que acontece com o outro, ou em relação aos sentimentos ou à veracidade dos gestos do outro", acrescentou a encenadora, que protagoniza a peça juntamente com o ator Luis el Gris.

De estrutura circular e com referências a muitas personagens de autores clássicos, como Shakespeare, Dante ou Strindberg, "João e Beatriz" (2002) é, contudo, um texto, muito contemporâneo e que, segundo Sofia Borges, "por vezes faz lembrar as histórias para crianças".

É como se a dramaturga "recuperasse o universo dos contos de fadas, trazendo-o aqui para uma dimensão mesmo cruel do adulto, uma visão desencantada, corroída e desgastada pelos embates da vida e pelo ruir de sonhos", precisou Sofia Borges.

"João e Beatriz" é uma elaboração, uma parábola, a história de "uma mulher em busca de um companheiro que a liberte da solidão e que, na tentativa de o encontrar, faz circular um anúncio no qual promete uma recompensa substancial ao homem que souber comovê-la, cativá-la e seduzi-la", acrescenta a encenadora, sublinhando, todavia, que esta não é uma peça "de final feliz".

Daí que possamos ler a obra da dramaturga como algo "na senda das tragédias".

Carole Fréchette nasceu em Montreal (Québec), em 1949. Em 2002 foi galardoada com o prémio Siminovitch de teatro.

Questionada sobre como chegou à obra da dramaturga canadiana que não está traduzida em Portugal -- e que em 2006 teve duas peças em cena no Teatro Aberto e no Teatro Municipal de Almada, "Os sete dias de Simão Labrosse" e "O colar de Helena", respetivamente -, Sofia Borges disse tê-la descoberto há 20 anos, durante uma viagem a Paris, na qual adquiriu vários livros da dramaturga.

No regresso leu "As quatro vidas de Marie", no que foi o princípio de "um estado de encantamento com a escrita da autora" que agora a Companhia de Teatro de Sintra põe em palco, e com que também vai prestar uma pequena homenagem à escritora, referiu.

Há pouco tempo, a atriz Sofia Borges encontrou o texto de "João e Beatriz", e pensou de imediato levá-lo a cena, uma intenção acolhida com agrado pelo diretor da Companhia de Teatro de Sintra.

O facto de a peça ter apenas os dois personagens que lhe dão o nome acabou por facilitar a produção, num momento em que é difícil produzir espetáculos onerosos, disse à Lusa.

Além da peça da autora canadiana que, segundo Sofia Borges, tem a particularidade de pôr em palco "figuras da marginalidade", a presença de Carole Fréchette servirá também para se fazer uma leitura encenada, também com montagem de Sofia Borges, de "As quatro mortes de Maria", a realizar a 06 de outubro, na Livraria Ler Devagar, na Lx Factory, em Lisboa.

Com tradução da atriz e encenadora - que lamenta não haver obra da dramaturga traduzida em Portugal -, a leitura encenada de "As quatro mortes de Maria" está a cargo dos protagonistas de "João e Beatriz", a quem se juntam Carmen Santos, José Neves e Paula Pedregal.

"João e Beatriz" vai estar em cena de 04 a 21 de outubro, com espetáculos de quinta-feira a sábado, às 21:30, e, aos domingos, às 16:00.

Com a encenação de "João e Beatriz", que permite a Sofia Borges "concretizar o sonho de longa data de trazer a dramaturga a Portugal", a Companhia de Teatro de Sintra pretende também começar a receber nomes de personalidades ligadas ao teatro e às artes, acrescentou a atriz.

A vinda da dramaturga canadiana a Portugal foi iniciativa da própria, depois de saber que a Companhia de Teatro de Sintra ia levar à cena uma peça sua, assim como promover a leitura encenada de outra, disse ainda Sofia Borges.

"À semelhança do que fez há pouco tempo no Líbano, quando ali se estreou 'O colar de Helena', ou do que fez este ano no Festival de Avignon, a propósito das comemorações dos 20 anos da publicação de 'As quatro mortes de Maria' e 'La peau d´Elisa (A pele de Elisa)'", observou.

"João e Beatriz" tem figurinos de Alexandra Moura e cenografia e grafismo de João Borges da Cunha.

CP // MAG

Lusa/fim

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