Movimentos pró-democracia nunca terão expressão - Carlos Monjardino

| Política
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 10 abr (Lusa) - O presidente da Fundação Oriente e antigo número dois do governo de Macau nos anos 1980, Carlos Monjardino, acredita que os movimentos pró-democracia não terão expressão no antigo território português, pelo menos da mesma forma como em Hong Kong.

"Não há muitos [movimentos pró-democracia no território]. Sempre houve uma diferença muito grande, no que respeita a esse assunto, entre Hong Kong e Macau. Em Hong Kong sempre foram muito mais virulentos, digamos assim", afirmou Carlos Monjardino numa declaração à Lusa sobre os 30 anos da assinatura do acordo para a transferência da soberania de Macau para a China.

O acordo foi assinado a 13 de abril de 1987, faz na quinta-feira 30 anos, pelo então primeiro-ministro português, Cavaco Silva, e o seu homólogo chinês, Zhao Zyang. A transferência efetiva do território aconteceu em dezembro de 1999.

"Já quando eu estava lá me faziam a mesma pergunta que me está a fazer. E eu respondia sempre da mesma maneira. Nenhum movimento democrático semelhante ao de Hong Kong vai ter sequência em Macau. Não terá qualquer expressão em Macau", disse Carlos Monjardino, explicando a sua visão com as "diferenças de herança" entre os dois territórios.

Deputados pró-democracia em Macau consideram que, ao contrário de Hong Kong, a luta pela democracia na antiga região portuguesa sofre de "uma deficiência congénita", criada pela Lei Básica de Macau, em vigor desde que a região deixou de ser administrada por Portugal.

Ao contrário do que aconteceu em Hong Kong, a Lei Básica de Macau (uma outra forma de designar uma constituição, algo que na realidade não é) não estabelece o voto universal como objetivo na eleição do líder do Governo.

Em Hong Kong, a sociedade local empenhou-se na exigência desse direito e esse compromisso acabou por entrar na lei que funciona como uma constituição para a região. Já em Macau, segundo os deputados pró-democracia, foram poucas as solicitações e a Lei Básica, definida em 1993, não o incluiu.

Na Assembleia Legislativa de Macau, só 40% dos deputados são eleitos por sufrágio direto e o chefe do executivo é eleito por um colégio.

Carlos Monjardino admite que, quando se estava a negociar os termos da transferência de Macau, os responsáveis portugueses estavam muito céticos em relação à forma como a China iria tratar o território.

"Há 30 anos - eu estava lá nessa altura - nós olhávamos para o futuro de Macau de uma forma muito cautelosa, mas depois por razões várias, basicamente políticas, quando a China passou a ter as rédeas, resolveu promover Macau. Era uma hipótese - não aquela que nos parecia a mais provável - mas foi o que aconteceu", indicou o também vice-presidente da Fundação Stanley Ho.

"Felizmente que em todos estes anos a República Popular da China percebeu a utilidade de Macau", completou.

A China, recordou o antigo banqueiro, "fez o Fórum Macau - onde estão reunidos todos os países de língua portuguesa - e, internamente, abriu as portas para o jogo".

"Mais do que estavam abertas no meu tempo, e as receitas são aquelas que toda a gente conhece", disse Carlos Monjardino, acrescentando que os portugueses "têm razão" quando pensam em Macau como um local onde só há casinos.

"A economia de Macau é muito pouco pujante e diversificada", disse o antigo governante português.

Sobre o espaço de Macau nas prioridades da política chinesa, Carlos Monjardino disse que "Macau vai ter sempre um lugar especial dentro da China".

"É um ilhéu de cultura europeia, porque nós ainda deixámos lá alguma coisa. Não tanta como porventura seria de esperar, mas deixámos. E portanto, vai ser sempre um lugar diferente. E é pela diferença que Macau vai ter sucesso no futuro, sobretudo do ponto de vista turístico", afirmou.

Em 2016, Macau arrecadou 102,4 mil milhões de patacas (11,9 mil milhões de euros) em receitas ficais. Desta verba, 77% correspondem a receitas relativas aos casinos.

Entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulou um saldo positivo de 21,7 mil milhões de patacas (2,5 mil milhões de euros) em 2016.

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