Governo não gostou da obrigatoriedade imposta pelo Parlamento para os administradores da CGD apresentarem declarações de rendimentos

Governo não gostou da obrigatoriedade imposta pelo Parlamento para os administradores da CGD apresentarem declarações de rendimentos
| Política
Porto Canal com Lusa

O secretário de Estado do Tesouro e Finanças considerou hoje no parlamento que legislar neste momento sobre a obrigatoriedade de os administradores da Caixa entregarem as suas declarações de rendimentos é "um desrespeito pelo Tribunal Constitucional" (TC).

Ricardo Mourinho Félix, que está hoje na discussão na especialidade da proposta de Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) no parlamento, referiu-se às propostas do PSD relativamente à Caixa Geral de Depósitos (CGD): uma relativa às declarações de rendimento e património, que foi aprovada, e outra sobre as regras de cálculo dos salários, que foi rejeitada.

"O TC já deixou bem claro que a sua posição foi a de as pedir [declarações de rendimentos] aos administradores, que responderão em tempo e é um processo que está a decorrer. Fazer um processo legislativo neste momento, quando corre um processo relativamente à Caixa, é um desrespeito pelo TC que os senhores demonstram", afirmou o governante.

Mourinho Félix defendeu que, "dado que não se trata de uma proposta de caráter orçamental", o parlamento pode "em sede própria decidir posteriormente e em processo autónomo como deve legislar nesta matéria".

Quanto ao modelo de governação da CGD defendido pelo Governo, Ricardo Mourinho Félix reiterou que "o que se pretende é fazer uma alteração" a esse modelo, a qual "esteve na base da discussão" mantida com Bruxelas, e acrescentou o objetivo é ter "uma Caixa pública e despartidarizada".

"Não deixaremos que a direita venha aqui destruir o que foi uma imensa vitória que conseguimos na negociação com a Comissão Europeia", sublinhou.

Mas foram as palavras que disse de seguida, em resposta a uma intervenção do deputado social-democrata António Leitão Amaro, que causaram grande ruído na bancada do PSD, que se prolongou por mais de dois minutos, período durante o qual o secretário de Estado não conseguiu continuar a falar.

"O projeto da direita enquanto governo sempre foi de privatização da Caixa. Aquilo que é dito aqui hoje é caso para dizer que o populismo chegou à cidade. O deputado Leitão Amaro, com a sua intervenção, revela uma de duas coisas: ou um profundo desconhecimento do funcionamento do RGIC [Regime Geral das Instituições de Crédito] ou uma disfunção cognitiva temporária", disse Mourinho Félix.

Com estas palavras, o secretário de Estado foi imediatamente interrompido pelos deputados do PSD, que exigiram um pedido de desculpa, naquilo a que o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, qualificou como "um boicote a uma intervenção" no "parlamento democrático".

Quando, mais de dois minutos depois, o secretário de Estado conseguiu retomar a palavra começou com o pedido de desculpa: "Não foi minha intenção ofender ninguém e, se ofendi, peço desculpa por isso", disse.

Antes, o deputado Leitão Amaro tinha pedido a palavra para falar da CGD e responder às afirmações do primeiro-ministro, António Costa, que acusou, em entrevista à Lusa, o PSD de estar a "inventar" polémicas para impedir a capitalização da CGD.

"Que lata! Quem é que em fevereiro disse que na Caixa existia um buraco de 1.800 milhões de euros que afinal não havia? O Governo. Quem escolheu administradores que foram mandados para a escola antes de ir administrar? O Governo. Quem disse que a recapitalização da Caixa era urgente mas já lá vai um ano? O Governo. Quem é que prometeu e atrasou? O Governo", lançou Leitão Amaro.

Para Leitão Amaro, "é uma indignidade" o que o Governo de António Costa "está a fazer à Caixa": "Os senhores querem que, perante as vossas asneiras, a comunicação social e o país se calem. Querem amordaçar as vossas asneiras. É tempo de pôr fim a esta indignidade e é tempo de António Costa deixar de se esconder", disse ainda.

Mourinho Félix acrescentou, depois do pedido de desculpas ao deputado do PSD, que "o facto de a capitalização ser urgente não quer dizer que tenha de ser feita no imediato" e que só pode ser feita "depois de as imparidades estarem devidamente apuradas e reconhecidas nas contas e de se conhecer o montante de capital necessário".

"Esse trabalho está a ser concluído, implica uma emissão de dívida subordinada e isso tem de ser feito sobre contas estabilizadas e aprovadas. É por isso que decidimos que o processo será aprovado apenas em 2017, depois da aprovação das contas de 2016", esclareceu o secretário de Estado.

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