Legislativas 2015

O Grande Ausente

Pedro Arroja - 22-09-2015 13:36:18

O povo português é religioso e o regime político é democrático - portanto, supostamente representativo do povo.

Porém, na campanha eleitoral e nos debates eleitorais nunca se fala de Deus.

Porquê?

A pergunta é antiga e a resposta que habitualmente se lhe dá também, embora seja falsa. Foi posta mais recentemente num pequeno livro do eurodeputado Paulo Rangel cuja apresentação no Porto contou com a presença de numerosos políticos, incluindo o Primeiro-Ministro. O livro tem o título "Jesus Cristo e a Política"

No livro, o autor põe-se a questão de saber se Cristo tinha um programa político. A questão é importante e muito relevante porque se Cristo, na realidade, tem um programa político, o PSD poderia adoptá-lo e seria vitória eleitoral pela certa num país em que o povo é tão profundamente cristão.

Depois de analisar os Evangelhos, o autor conclui que Cristo não tinha um programa político e, portanto, que a mensagem de Deus é irrelevante para a política. Deus pode assim ser excluído do espaço público e da discussão política, pode figurativamente ser fechado num armário, e os políticos podem prosseguir a sua vida como se Deus não existisse.

E, sendo assim, com Deus ausente do espaço público - Deus que é o critério e o padrão do Bem e da Verdade -, fica aberta a porta aos políticos para praticarem o mal e mentirem com total impunidade. Não surpreende que a política partidária e democrática seja dominada pelas traições e pelas deslealdades, pela mentira e pelas promessas não cumpridas.

A presença de Deus faz parecer mal os políticos e inibe-os de praticar o mal e a mentira. É por isso que eles o fecham num armário e o arredam do espaço público.

Mas será verdade que Cristo não tem uma mensagem política? Não, não é verdade. Cristo tem uma mensagem política e das mais vigorosas, só que não é uma mensagem de política partidária, que é o tipo de mensagem que o eurodeputado Paulo Rangel andou à procura nos Evangelhos.

Em lugar de partidos e seitas que eram numerosos no seu tempo - e aos quais Cristo nunca aderiu -, Ele pregou uma mensagem exactamente oposta, uma mensagem de comunidade: Unam-se, amem-se uns aos outros, em lugar de se dividirem e digladiarem em partidos.

Em lugar da supremacia da Lei, que caracteriza a concepção moderna do Estado de Direito democrático, Ele pregou a supremacia da pessoa humana. Deus revela-se primariamente através das pessoas - de que Ele era o exemplo acabado -, não das leis. As leis foram feitas para servir as pessoas e não o inverso, as pessoas feitas para servir as leis. Só existe uma Lei que interessa, amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. "Esta é a Lei e os profetas" (ênfase meu). Se esta Lei for cumprida, mais nenhuma é necessária.

Em lugar das relações entre as pessoas serem governadas pelo poder - como nas democracias socialistas - ou pelo interesse - como nas democracias liberais -, Cristo pregou que elas fossem governadas pelo amor.

Estes são princípios suficientemente revolucionários para constituírem um programa político verdadeiramente revolucionário - e um programa político que põe Deus no centro do espaço e da discussão pública.

Já no final da sua vida, vivendo exilado nos EUA, o célebre dissidente soviético Alexander Soljenitsin procurou resumir numa frase o seu esforço de uma vida para compreender a perversidade do regime soviético. Disse ele: "Aquele regime só foi possível porque as pessoas se esqueceram de Deus".

Na realidade, com Deus fechado num armário e fora do espaço público tudo passa a ser possível na política democrática e partidária. O mal e o Bem têm o mesmo valor e passam a ser indistinguíveis, assim como a mentira e a Verdade.

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