Com os portugueses cada vez mais divorciados das máquinas partidárias, desiludidos com os políticos, com uma juventude mais ligada à internet que ao país real, a velocidade a que caminha a sociedade não tem sequência igual nas instituições que se intrometeram nas últimas décadas nas placas de influência do poder.
Algumas empresas de sondagens, sempre predispostas a todas as solicitações foram, com os anos, ancorando a sua sobrevivência ao ritmo político. Algumas delas, ainda que sofisticando os seus meios nunca se coibiram de fazer fatos à medida do cliente, ou seja questionários direcionados em conformidade com o que os líderes queriam que os militantes vissem e ouvissem.
Engajaram-se de tal maneira que não é difícil hoje associar determinada empresa de sondagens (não todas) a uma cor política. A queda vertiginosa começou por aí, mas pior do que isso, essa sobrevivência agarrada aos partidos políticos retirou lhes capacidade e velocidade na reacção às mutações vertiginosas da sociedade.
As últimas eleições autárquicas foram o golpe mais profundo de uma seta chamada "eleitores" que na hora de depositarem o seu voto contratariam todas as indicações que muitas empresas de sondagens tentaram nos meses anteriores "adivinhar" e que serviram, a quem se candidatava, para travar um combate político ilusório. Não para os destinatários, entenda-se, mas para eles próprios que assim se faziam a comícios e arruadas, feiras e sardinhadas animados por alguns dos amigos e outros arrebanhados, deixando uma difícil tarefa aos operadores de imagem das televisões de fecharem planos em pequenos grupos para parecer que o povo estava mobilizado.
Dois anos depois, a lição parece ter sido em vão. E em vez de se concentrarem na qualidade decidiram fazer uma fuga para a frente optaram pela quantidade.
Nem mesmo as eleições na Grécia, as regionais de Espanha ou as do Reino Unido foram farol suficientemente iluminado para encontrarem o caminho.
Ao invés, desataram a fazer consultas. E até às eleições há mesmo empresas que estão dispostas a fazer todos os dias uma consulta popular.
Preparam-se para lançar nos órgãos de comunicação social números que só não deixam o eleitorado ainda mais baralhado, porque este há muito percebeu que entre o que dizem os indicadores e o que eles decidem, vai uma distância igual à que separa os que se mantêm nas consultas via telefones fixos e os que estão contactáveis na rua, no café, na universidade, em Londres ou em Pequim.
No dia 4 de Outubro, uns irão justificar o erro com as variações que hoje são difíceis de contabilizar entre a sociedade, outros irão vangloriar-se que em dois ou três dias dos muitos dias em que lançaram indicadores, acertaram na mouche.
E da próxima vez cá estarão de novo mostrar fichas técnicas gigantescas com amostras insignificantes que servem para escamotear o óbvio. O voto é livre, e na hora de decidir há uma significativa franja da sociedade que não quis saber das mensagens que lhes quiseram impor.
As empresas de sondagens são activos importantes numa democracia e não servem apenas para fazer estudos sobre eleições. É pena que algumas delas, no afã de sobreviverem a qualquer custo vão desbaratando a credibilidade que algumas delas, sem terem nisso responsabilidade, são, injustamente, tomadas pelo todo.
Júlio Magalhães