Nas primeiras eleições presidenciais por sufrágio directo e universal, em 1976, Ramalho Eanes venceu com o compromisso: “Muitos prometem... Eanes cumpre”. Nas últimas presidenciais, a candidatura de Cavaco Silva às Presidenciais de 2011 escolhia como lema “Acredito nos Portugueses”. Em ambos os casos, o slogan resumia uma atitude ou uma ação característica do candidato: o cumprimento das promessas, no primeiro caso, e o “acreditar”, no segundo caso.
Nestas últimas eleições, os principais partidos invertem a comunicação com o eleitor, e passa a ser este o sujeito da ação. Ao apelar à confiança dos portugueses com o “É Tempo de Confiança”, do PS, e o “Confiança para Seguir em Frente”, da coligação PàF, os principais partidos sabem que os eleitores desconfiam das suas promessas, e que os conhecem suficientemente bem para acreditarem sem mais nas suas propostas. Já não basta divulgar o programa e esperar a adesão passiva do recetor. É necessário um esforço adicional deste último para acreditar, para ter fé e esperança firme na bondade das projetos políticos sujeitos a sufrágio.
No Eurobarómetro de maio de 2015, a percentagem de portugueses que afirmam confiar nos partidos políticos foi de 12%, bem menor que a de 16% para os países da UE e longe dos 19% registados há dez anos atrás. Os anos da crise tornaram os portugueses mais céticos, mas também mais exigentes. Os partidos, enquanto atores fundamentais do palco democrático, sabem-no. Esperemos que não se esqueçam.
João Cerejeira