Alexandre Quintanilha dá última aula à espera de nova liderança na Ciência
Porto Canal / Agências
Perante uma plateia de alunos e figuras académicas e do Porto que não cabiam em duas salas (e no segundo espaço só foi possível assistir através de um televisor), Alexandre Quintanilha, prestes a fazer 70 anos, elencou todos e todas que o ajudaram ao longo da vida e da carreira e realçou que "as pessoas e o conhecimento são a maior riqueza".
Em declarações aos jornalistas no final da aula, para as quais teve de interromper os cumprimentos às dezenas de pessoas que ainda esperavam para lhe falar, o investigador lembrou que chegou a um Portugal que em 1990 vivia uma fase de "grande esperança, de grande motivação", contrária à atual.
"Estamos a passar uma fase que eu espero que seja curta e muito transitória, para que esta motivação, esta esperança, esta convicção de que podemos crescer individualmente como país não se perca", afirmou o professor universitário e ex-diretor do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC).
Alexandre Quintanilha disse esperar que "para as próximas eleições não façam a mesma asneira outra vez" e que haja na Ciência "uma exigência muito maior em relação ao que é a liderança" porque é um campo no qual "não há liderança no país".
"E houve. Houve da parte do Mariano Gago, que não era perfeito, mas que era um individuo que fazia, desenvolvia e deixou ficar um trabalho extraordinário no nosso país precisamente porque tinha essa liderança e agora sentimo-nos todos um bocadinho órfãos precisamente porque não há uma liderança ao mesmo nível e eu gostaria muito que isso aparecesse outra vez", declarou.
Sobre o futuro, Quintanilha disse não fazer ideia do que vai fazer, mas tal não o preocupa: "Sinto-me muito livre, muito leve. Tudo é possível. Tudo desde que eu e o Richard estejamos de acordo".
Questionado sobre se no momento da última aula se lembrava de qual tinha sido a sua primeira lição, o catedrático da Universidade do Porto com mais de 150 publicações em revistas internacionais refletiu por momentos antes de responder afirmativamente.
"Foi a alunos de Engenharia do 2.º ano, em Joanesburgo. Quando entrei vinha com uma camisa azul com flores brancas e vinha vestido com fato de macaco e quando eu entrei na sala, muitos dos alunos eram ligeiramente mais novos do que eu, começaram a gritar que eu estava na ala errada, que devia ir para as alas das Belas Artes e eu disse 'não, não, sou vosso professor' e eles ficaram muito envergonhados", disse, acrescentando que tal teria ocorrido por volta de 1968.
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