Fátima: Morte de peregrinos nas estradas deixa autoridades embaraçadas
Porto Canal / Agências
"Eu reconheço que as autoridades, nomeadamente a GNR, nos últimos anos, tem estado particularmente sensível a esta questão e tem procurado montar um dispositivo que acompanhe os peregrinos e que naquilo que é possível lhes dê uma maior segurança nos percursos que escolhem, mas continuamos a perceber situações dramáticas como as que aconteceram este ano de morte de peregrinos, de atropelamentos que a todos nos deixam extremamente embaraçados por não se ter conseguido até agora encontrar uma solução mais efetiva", afirmou o padre Carlos Cabecinhas.
Na conferência de imprensa que antecedeu o início da peregrinação internacional ao templo mariano, o sacerdote declarou que "tem sido sempre uma preocupação do santuário" a segurança dos peregrinos que se dirigem a pé para Fátima, mas sustentou que "não é uma situação fácil de resolver".
"O peregrino de Fátima procura sempre o caminho mais curto, o caminho mais breve que o conduza do seu ponto de partida até Fátima", declarou, considerando que mesmo quando as autoridades locais pensam em percursos alternativos que ofereçam mais comodidade e mais segurança, "se significarem mais quilómetros, há uma dificuldade enorme em que os peregrinos que se dirigem a pé a Fátima os aceitem".
Um acidente, ocorrido às 04:00 do dia 02, no itinerário complementar 2, em Cernache, Coimbra, provocou a morte de cinco peregrinos, dois dos quais escuteiros, após um automóvel se ter despistado à saída de uma curva e invadido a faixa contrária onde seguiam, a pé, cerca de 80 pessoas provenientes de Mortágua, no distrito de Viseu, com destino a Fátima.
Em abril, o santuário anunciou que foi dado a conhecer o estudo do traçado entre Porto e Fátima numa reunião onde estiveram diversas entidades, nomeadamente as que, no terreno, acompanham os peregrinos na sua caminhada.
"A proposta de traçado oficial (...) foi pensada entre Gaia e Fátima, por ser o troço que congrega o maior número de peregrinos", esclareceu na ocasião a instituição, assinalando que o objetivo é "melhorar as condições de peregrinação a pé até ao Santuário de Fátima, em termos de segurança, conforto e apoio".
O responsável sustentou que "este esforço que se está a fazer tem sido feito também a outros níveis e noutros percursos geográficos no sentido de se conseguirem alternativas seguras para os peregrinos".
Questionado sobre se os obstáculos para a execução das alternativas para nos peregrinos a pé são financeiros, o reitor garantiu que não é essa dificuldade que tem atrasado o processo, sublinhando que estes trabalhos já decorrem "muito antes" do acidente que vitimou os peregrinos de Mortágua.
"Não gostaria que ficasse a ideia de que foram estas cinco mortes que provocaram esta preocupação", observou, notando que esta "tragédia se tem multiplicado nos últimos anos".
Confrontado sobre a eventualidade de o santuário financiar a execução de percursos alternativos para os peregrinos a pé, Carlos Cabecinhas declarou que "não é vocação do santuário financiar os municípios portugueses" e não é para os financiar o que os peregrinos "deixam as suas ofertas neste lugar".
Também na conferência de imprensa, o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, apelou "às autoridades para que apressem a realização destes projetos", porque "de todo o lado" surgem solicitações nesse sentido.
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