Comissão Nacional de Protecção de Dados apela à AR que defina leis para acessos no fisco
Porto Canal / Agências
Lisboa, 08 abr (Lusa) -- A presidente da Comissão Nacional de Proteção de Dados apelou ao parlamento que defina leis sobre o acesso a dados fiscais, que poderia passar pela introdução de um sistema que questiona o funcionário da necessidade da consulta àquela informação.
"Era importante que esta casa criasse um conjunto de normas legais que definissem os termos principais em que são feitos os acessos e os tratamentos a estes dados", afirmou hoje Filipa Calvão aos deputados das comissões parlamentares de Orçamento e de Assuntos Constitucionais, onde está a ser ouvida sobre a 'lista VIP' de contribuintes no fisco.
A presidente da CNPD sugeriu a aplicação de um sistema 'break de glass' (ou em português, de 'quebrar o vidro') na Autoridade Tributária (AT), recordando que ele já é aplicado "na polícia e na saúde" e que, por isso, "não há razão para que não possa ser também implementado" no fisco.
"É um sistema que permite ao funcionário aceder a toda a informação, mas quando acede a certo tipo de informação mais reservada ou sensível, o sistema informático pergunta tem a certeza se quer aceder. Querendo, o sistema informa o funcionário de que será enviado um alerta para fazer o controlo desse acesso e para verificar se há justificação para esse acesso", explicou Filipa Calvão.
A presidente da CNPD recordou que esta solução "já foi experimentada entre nós" e que, nos testes realizados, demonstrou "uma elevadíssima percentagem no recuo dos acessos".
A responsável respondia a questões colocadas pela deputada do CDS-PP, Vera Rodrigues, que sugeriu que os contribuintes possam saber quem acede aos seus dados.
"Essa solução também está implementada no setor da saúde, onde é possível saber quem está a aceder aos dados. Portanto é uma solução possível e que naturalmente pode ser a utilizada", disse Filipa Calvão.
No seguimento de notícias que davam conta da existência de uma lista VIP de contribuintes no fisco, a CNPD concluiu que durante quatro meses existiu no fisco um sistema para identificar os acessos à informação fiscal do Presidente da República, do primeiro-ministro, do vice-primeiro-ministro e do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.
Nessa investigação, a CNPD concluiu também que na AT existiu informalidade no tratamento dos dados sigilosos, a destruição de documentos, como e-mails, anteriormente ao previsto na lei, e que há cerca de 2.300 trabalhadores externos ao fisco com perfil de acesso aos dados fiscais.
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