Teixeira dos Santos diz que crise da dívida não explica queda do GES
Porto Canal
O antigo ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, afastou hoje a possibilidade de a crise da dívida soberana ter sido a grande responsável pelo colapso do Grupo Espírito Santo (GES).
"Não me parece que essa possa ser uma explicação", afirmou perante os deputados que integram a comissão de inquérito à gestão do Banco Espírito Santo (BES) e do GES.
Segundo o ex-governante, "a exposição à dívida soberana do BES é algo que, com certeza, teve impacto no seu desempenho financeiro, tal como nos outros bancos", mas "o BES não esteve exposto de forma diferenciada de outras instituições, porque é frequente que as instituições bancárias detenham dívida pública".
Teixeira dos Santos sublinhou que o agravamento da situação da dívida soberana ocorreu principalmente em 2011 e na primeira metade de 2012, e que foi isso que levou o conselho europeu a avançar em junho de 2012 com a União Bancária e à célebre declaração de Draghi de que tudo faria para salvar o euro.
"Se a dívida pública fosse capaz de criar uma situação dessa natureza, não seria nesse prazo. Há um 'timing' [na derrocada do GES] que não joga com a evolução dos 'spreads' da dívida pública", realçou.
E acrescentou: "Os problemas com que os bancos se têm confrontado nos últimos dois anos são o estreitamento da sua margem financeira, que afeta a sua rendibilidade. E o outro fator que afetou muito a banca foi o aumento do crédito de cobrança duvidosa".
O responsável vincou que este indicador, "devido à crise, aumentou de 5% em 2011 para 14% em 2013.
A audição de Teixeira dos Santos abre um dia em que as luzes do holofote da comissão mudam dos supervisores (já foram ouvidos o governador do BdP, Carlos Costa, bem como Carlos Tavares, líder da CMVM, e José Almaça, presidente do Instituto de Seguros de Portugal) para a esfera política.
À tarde, a partir das 15:00, será a vez de a comissão contar com a participação da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.
A comissão terá um prazo de 120 dias, que pode eventualmente ser alargado, e tem por intuito "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos, as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades.
Será também avaliado, por exemplo, o funcionamento do sistema financeiro e o "processo e as condições de aplicação da medida de resolução do BdP" para o BES e a "eventual utilização, direta ou indireta, imediata ou a prazo, de dinheiros públicos".
A 03 de agosto, o BdP tomou o controlo do BES, após o banco ter apresentado prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades.
No chamado banco mau ('bad bank'), um veículo que mantém o nome BES, ficaram concentrados os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas, enquanto no 'banco bom', o banco de transição que foi designado Novo Banco, ficaram os ativos e passivos considerados não problemáticos.